São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Couro divide as indústrias e os curtumes

DANIELA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O couro é hoje o centro de acirradas discussões entre indústrias calçadistas e curtumes e mesmo de associações de fabricantes de couro entre si.
"Estamos nos matando. Esta briga é como um nervo exposto", diz Amadeu Fernandes, presidente da Abicouro (Associação Brasileira da Indústria do Couro), que tem como aliados basicamente curtumes do Rio Grande do Sul e de São Paulo.
É que o Brasil está exportando mais da metade de sua produção de couros (27 milhões de peças) nos estágios salgado e Wet Blue (primário e intermediário do material, respectivamente).
Os maiores exportadores brasileiros de couro fazem parte da CICB (Centro das Indústrias de Curtume do Brasil), que exclui os fabricantes gaúchos.
Para muitos calçadistas, as exportações de matéria-prima estão desabastecendo o mercado interno. "Temos capacidade para concorrer com qualquer país do mundo, exceto a China. Desde que a nossa matéria-prima esteja protegida", diz Carlos Brigagão, presidente dos calçados Sândalo.
A Abicouro, que produz couros semi-acabados, diz que o grande volume de exportações de couro em estágios primários impede que o Brasil exporte produtos de maior valor agregado.
A alíquota de exportação do couro salgado é de 9% e a do Wet Blue é zero, o que vem facilitando a venda desses produtos no exterior. Além disso, o preço praticado pelo Brasil (US$ 0,55 o quilo) é o menor do mundo, diz Arnaldo Friso, presidente do CICB.
Pelo acordo do Mercosul, a alíquota para importação de couros no Brasil é de 10%. Friso está solicitando ao ministro Francisco Dornelles que "zere" a alíquota.
"Queremos que a indústria calçadista tenha todas as opções de compra". É a primeira vez que um fabricante solicita a redução da alíquota de importação para zero.
A Abicouro está, por sua vez, solicitando a elevação da alíquota de exportação nos estágios iniciais do material. "Nossa matéria-prima não paga imposto para entrar em outros países, mas nossos calçados pagam."

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