São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Só resta marcar ganenses por pressão

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Ufa! Conseguimos passar pelo buraco da agulha, e ainda saímos do outro lado garbosos como primeiros do grupo, apesar dos contratempos.
É pouco para os que elevaram a nossa seleção a um nível que nunca foi o seu, mas suficiente para mim que insisti aqui durante todo o período de preparação: é um bom time, capaz mesmo de ganhar a medalha de ouro, até com certa folga e alguns momentos de alta classe, mas não excepcional.
Além do mais, do outro lado também tem gente, correndo no embalo do espírito olímpico, insuflada por todos esses valores velhos e gastos, como a cor de suas bandeiras ou afirmações pessoais, que continuam vivos no imaginário de cada competidor que se predispõe a participar de uma Olimpíada.
Portanto, só os deslumbrados esperavam boa vida em Miami.
Independente desses fatores, poderíamos ter caminhado com mais desenvoltura nesta primeira fase do torneio de futebol se Zagallo não tivesse insistido em começar com seu ataque titular: Bebeto e Sávio, apoiados por Juninho, um trio de fina técnica, mas frágil demais para uma disputa desse vulto.
Tanto era imperiosa a presença de Ronaldinho que, quando virou titular, a partir do jogo contra a Hungria, incumbiu-se de nos abrir o caminho da classificação, com o primeiro gol contra a Hungria, feito num momento crucial, e com o da vitória sobre a Nigéria.
A propósito, este, um gol emblemático, posto que fruto da exata combinação de habilidade (o toque no meio das canetas do beque), força física (desvencilhou-se do negrão na marra) e precisão (o disparo típico de um artilheiro nato, aquele que não desperdiça pensando a chance que a intuição lhe sopra ao ouvido).
Outro detalhe: a entrada de Zé Elias no lugar de Amaral. Menos pela segurança que Zé Elias conferiu à entrada de nossa área, ou por seu espírito guerreiro, mas muito mais por liberar Flávio Conceição para as ações mais ofensivas.
Flávio deu o passe para o gol de Juninho, igualmente vital no jogo contra Hungria, e teve uma atuação estupenda contra a Nigéria.
Nem assim atingimos a excelência esperada pelos idealistas. Nosso segundo tempo contra a Nigéria foi simplesmente torturante.
Entre outras coisas, porque Rivaldo ainda não conseguiu reproduzir o futebol maravilhoso que lhe deu o título de melhor do Brasil ainda outro dia.
Tampouco Bebeto corresponde à fama de implacável e experiente goleador, embora tenha feito um gol antológico contra a Hungria.
Por fim, Zagallo parece insistir em contrariar a lógica do jogo, no momento das substituições.
Explico: está provado que o mais conveniente é uma dupla mista lá na frente, um jogador leve, habilidoso, como Bebeto ou Sávio, e outro, goleador, com mais massa física, tipo Ronaldinho ou Luizão.
Zagallo, porém, insiste em sacar apenas Ronaldinho para dar lugar a Sávio, mesmo que Bebeto esteja se arrastando em campo, como aconteceu contra a Nigéria. Nos dois casos, caímos no sufoco.
Desnecessário.
*
Hoje, contra Gana, talvez não dê para Roberto Carlos. Ouso dizer que será até melhor, quem sabe? Isso porque André, além de atacar bem pela esquerda, é mais meticuloso no passe e cuidadoso na marcação.
E mais: deve reforçar a defesa nas bolas altas. Neste ponto, até no ataque, naqueles escanteios treinados por Telê e MUricy.

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