São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Campo vira banheiro na 'hora do aperto'

MÁRIO MAGALHÃES e MARCELO DAMATO

MÁRIO MAGALHÃES; MARCELO DAMATO
DOS ENVIADOS A MIAMI

Quando um jogador se ajoelha em campo ele pode estar querendo mais do que amarrar as chuteiras.
Talvez esteja resolvendo um dos mais desagradáveis problemas que ocorrem numa partida: como fazer xixi sem ir ao vestiário.
Na terça-feira, no jogo contra a Hungria, imagens enviadas para pelo menos 120 países mostraram pela TV o atacante Ronaldinho urinando, sentado, usando a bola como "escudo" anticuriosos.
Ronaldinho foi flagrado improvisando uma das muitas soluções do repertório dos atletas da seleção brasileira de futebol.
"O que eu iria fazer: sair de campo para ir ao vestiário?", pergunta.
"Eu não tenho problema com isso", diz o meia defensivo Amaral. "Faço enquanto estou correndo. Só incomoda porque é quente."
O goleiro Danrlei é adepto do "jeitinho". "Sento, finjo que amarro a chuteira e resolvo tudo."
O meia-atacante Juninho afirma nunca ter passado "aperto". "Acho que, no dia em que acontecer, vou saber segurar."
O técnico Mario Jorge Zagallo conhece vários macetes do tempo em que era ponta-esquerda do Flamengo, do Botafogo e da seleção.
"Eu disfarçava, ajoelhava para amarrar a chuteira e virava o Manequinho", conta, às risadas.
O Manequinho, símbolo botafoguense, é um menino fazendo xixi.
O ex-jogador e hoje comentarista Tostão, considera "inusitado" o gesto de Ronaldinho ao sentar no chão para urinar.
"Nunca passei por isso, nem consigo imaginar como pode ocorrer. Com a tensão e a concentração no jogo, não há como pensar em outra coisa."
Ronaldinho fez xixi no segundo tempo, logo após o gol da Hungria.
O ritual
Em muitas equipes cariocas, os jogadores têm o hábito de urinar pela última vez no túnel do vestiário do Maracanã, antes de entrar no gramado.
Mais do que um método para evitar vontades inoportunas no jogo, o gesto transformou-se num ritual para "ter sorte".
Mais dramática que vontade de urinar é dor de barriga. "Senti isso na partida contra a Polônia (junho)", diz Amaral. "Aí eu dava piques e a vontade passava."
O médico Joaquim da Matta, orientador do programa que faz cada jogador beber até 1 litro de suco de laranja nas quatro horas que antecedem a partida, tem uma sugestão pragmática.
Para ele, "todo jogador deve urinar antes de entrar em campo".
No tênis, o atleta pode interromper o jogo e ir ao banheiro. Na F-1, os pilotos têm de urinar no macacão. No futebol, se improvisa.

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