São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Experimento pode acabar em nazismo, diz cientista britânico

IGOR GIELOW
DE LONDRES

A principal discussão sobre o "chip da vida", como os pesquisadores da BT chegam a chamar o mecanismo de gravar memórias, é ética e não tecnológica.
"Hoje, é possível dizer que não dá para fazer isso. Mas, há poucos anos, duvidava-se da cura da maioria dos cânceres hoje curáveis. Há pouco, descobriram um coquetel de drogas que, um dia, pode acabar com a Aids".
A frase, do pesquisador de ciência computacional britânico Michael Barnes, resume o espírito da discussão no Reino Unido.
Barnes é membro de um grupo de cientistas preocupados com questões éticas.
Para ele, é possível que a ciência consiga fazer o chip funcionar e até descarregar suas informações em outros cérebros.
"O problema, a degeneração, é a impossibilidade de sabermos o que isso vai virar. Criar uma raça superior de gente inteligente? Pelo amor de Deus, isso é nazismo disfarçado de ciência", diz.
Ele lembra as experiências conduzidas em Auschwitz, campo de extermínio nazista na Polônia, também "sob signo de algum progresso absurdo", como define.
Durante o famoso "Julgamento dos Doutores", em 1946, um oficial médico confirmou os testes para colorir íris e "arianizar" o indivíduo. Para ele, isso embelezava a raça humana, debate de "Arquitetura da Destruição", documentário do sueco Peter Cohen.
O oficial, coronel da SS Wolfram Sievers, chefiava o Instituto de Pesquisa Científica Militar. Foi enforcado em Nurembergue.
Outra questão criticada é o uso comercial das memórias, tema da ficção científica no cinema dos anos 80-90. "É uma invasão única de privacidade", afirma Barnes.
(IG)

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