São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Guerrilha busca apoio internacional

Emissário visita Brasil

KENNEDY ALENCAR
DO PAINEL

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia adotou estratégia semelhante à da OLP (Organização para Libertação Palestina) para tentar obter credibilidade junto à comunidade internacional.
A guerrilha quer aproveitar a gravidade da crise do governo de Ernesto Samper para alcançar reconhecimento internacional e ser ouvido como porta-voz de um segmento da sociedade colombiana, a exemplo da trajetória da organização de Iasser Arafat.
Para isso, designou um emissário, Oliverio Medina, que começou pelo Brasil sua "missão diplomática". Ele pretende percorrer nos próximos quatro meses países da América Latina e da Europa.
"Queremos quebrar preconceitos. Queremos que nos conheçam como somos. Na Colômbia, o povo já viu que os narcotraficantes são o presidente (Samper) e os congressistas. Isso aumentou nossa credibilidade lá", disse Medina, em entrevista à Folha.
Medina, que está nas Farc há 15 anos, é o primeiro membro da cúpula da guerrilha a visitar o Brasil. Como o governo não reconhece oficialmente o grupo, usou documentos falsos para entrar no país.
Entre os contatos que fez no Brasil, Medina cita partidos de esquerda (PT, PSB e PC do B), professores do departamento de sociologia da USP e Unicamp, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), bispos da Igreja Católica, além de intelectuais.
As Farc preparam o lançamento do Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia para ingressar na política institucional do país. Têm uma plataforma de governo semelhante à do PT na eleição de 1994.
Propõem que o Estado controle os setores estratégicos da economia, como o de telecomunicações e o de recursos naturais não-renovavéis (carvão, por exemplo)
"Queremos incentivar as pequenas e médias empresas de capital nacional e aceitamos o grande capital privado nacional e internacional, desde que haja um controle para que se destinem a atividades produtivas", diz Medina.
Segundo ele, após a crise que envolveu Samper, a guerrilha tem sido procurada por outros grupos da sociedade colombiana.
O presidente foi absolvido pela Câmara dos Deputados do país das acusações de financiamento ilegal, por narcotraficantes, de sua campanha eleitoral em 1994.
"Há políticos, empresários e intelectuais que enxergam as Farc como uma alternativa de poder."
Medina diz que as Farc podem vir a dialogar com um novo governo, dependendo do presidente que for eleito em 1998. O guerrilheiro nega que seu grupo tenha envolvimento com traficantes de drogas, como acusa o governo.
Medina diz que a guerrilha não luta diretamente contra os narcotraficantes porque seu objetivo principal é derrubar o governo.
"Mas nossa primeira condição para negociar com um novo governo é um combate sério ao cartel das drogas."

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