São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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'O Brasil é uma decepção intelectual para gente como eu'

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

"Pensava que esse imenso continente poderia gerar um potência político-militar importante. Cheguei a pensar a mesma coisa da Argentina. Mas constatei que esses países se contentam com sua situação, que é rica em potencialidades", afirma o deputado francês Jean-Marie le Pen.
"O Brasil é uma decepção intelectual para gente como eu", diz o líder da Frente Nacional.
Para Le Pen, o Brasil é um "império estático", a mesma classificação que ele utiliza para a China e para a Índia.
Dinossauros
Para Le Pen, uma das explicações para o Brasil "não desenvolver suas potencialidades" é seu gigantismo.
"É um pouco como os dinossauros. A única atividade deles consistia em se alimentar. Acabaram desaparecendo", diz.
O deputado francês esteve no Brasil há um ano e meio, no final de 1994, durante uma viagem pela América do Sul.
Nesse período ele conheceu, além do Brasil, o Paraguai, Uruguai, Argentina e Chile.
No Brasil, ele visitou o sul do país e o Rio de Janeiro.
Le Pen também passou alguns dias em Búzios, praia tornada célebre por outra personalidade francesa, a atriz Brigitte Bardot.
"Também me convidaram para ir a Pernambuco, mas não pude."
Não houve contatos políticos, segundo ele, por desencontros de agenda.
Uma das coisas que marcaram a ponto de vista de Le Pen sobre o Brasil foi a diferença de nível de vida entre os Estados brasileiros.
Le Pen usou a expressão "gigante adormecido" para definir o Brasil. Mas com ironia.
"Talvez o Brasil seja um gigante adormecido. Mas existem gigantes que dormem e que não acordam", afirma.
Brasil mulato
"No Brasil acham que Le Pen é racista. É uma visão errada. Le Pen defende o nacionalismo da maneira como ele foi desenvolvido pelo general Golbery do Couto e Silva", compara Bruno Racouchot, chefe de gabinete do líder da Frente Nacional e que trabalhou no Brasil durante os anos 70.
"Golbery defendia os interesses nacionais, seja em matéria econômica, demográfica, ou de política estrangeira", afirma Racouchot.
Le Pen aproveita a deixa e afirma que não vê nenhum problema na mestiçagem brasileira.
"Não sou hostil à mestiçagem como avatar da vida individual. Sou contra a mestiçagem como ideologia política", afirma.
Ele aproveita para fazer piada com o tema. "Essa experiência me interessa. É verdade que a mestiçagem dá belíssimas garotas."
Segundo Le Pen, alguns países conseguem lidar bem com a mistura racial.
Ele cita como exemplo as Ilhas Reunião, um departamento francês que fica no oceano Índico (distante 9.180 km de Paris), onde a mestiçagem "não é problemática".
(LAR)

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