São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Reino Unido quer destruir 4 mil embriões

GLENDA COOPER
DO "THE INDEPENDENT", EM LONDRES

Na última quinta-feira, uma professora de creche em Bristol (Reino Unido) comemorou sua maioridade. Não foi um aniversário de 18 anos comum: era a maioridade de Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo.
Desde o nascimento de Brown outros 150 mil bebês nasceram por meio da fertilização in vitro, trazendo alegria para milhares de casais. A técnica consiste em fertilizar óvulos num tubo de ensaio e conservar o embrião resultante para uso futuro.
Mas o que acontece com os embriões excedentes? Até o início da semana, muitas pessoas não sabiam que há 60 mil embriões excedentes, congelados, no Reino Unido. Quase quatro mil deles devem ser destruídos na semana que vem.
Na segunda-feira passada, a Autoridade Britânica de Fertilização e Embriologia Humana informou que não conseguiu localizar 900 casais que têm embriões conservados no gelo.
Sob a lei vigente, todos os embriões devem ser destruídos após cinco anos, a não ser que os pais peçam a prorrogação do prazo ou que os embriões sejam doados a outros casais.
"Massacre pré-natal"
As organizações pró-vida reagiram indignadas ao que vêem como destruição proposital de vidas.
O Vaticano chamou a iniciativa de "massacre pré-natal" e exortou casais casados a "adotarem" um embrião e enxergarem a iniciativa como "a adoção de uma criança órfã ou abandonada".
Mulheres italianas já reagiram ao apelo do Vaticano. A Life, importante entidade assistencial pró-vida britânica, pretende promover uma entrevista coletiva com casais britânicos na semana que vem. Anteontem, o jornal católico "The Universe" juntou-se à Life num apelo à colaboração de casais britânicos.
Para a Autoridade de Embriologia, adotar um embrião sem o consentimento de seus pais seria "legal e eticamente errado".
Os militantes pró-vida acreditam que a vida tem início no momento da concepção. Seus adversários dizem que um embrião de um dia de idade não pode ser considerado uma pessoa.
Atualmente as adoções de embriões só podem ser realizadas com o consentimento dos casais originais responsáveis por eles.
Não é fácil consegui-lo, pois muitos pais ainda preferem ver seus embriões destruídos a enfrentar a idéia de que outra pessoa possa gestar seu filho genético.
Brian Lieberman, do Centro de Fertilização do Hospital St. Mary's, em Manchester (Reino Unido), estima que apenas um em cada quatro casais queira doar seus embriões a outros casais.
Elaine Oliver, que se submeteu a tratamento na clínica Tyne and Wear Cromwell, decidiu doar seus embriões depois de conseguir gerar um filho, William, hoje com cinco anos de idade.
"Sofremos tanto para conseguir gerar William que hoje entendemos como existem pessoas desesperadas por alguma ajuda. Achamos que seria bom doar nossos embriões para que outras pessoas possam ter o mesmo prazer que nós temos com nosso filho. Não foi uma decisão difícil", disse ela.
O casal Oliver decidiu que não queria ver seus embriões destruídos ou utilizados em pesquisas.
"Quando um casal quer doar um embrião, temos que submetê-lo a testes muito cuidadosos", disse o médico Peter Bromwich, diretor do Serviço de Fertilidade Midlands.
A escolha do embrião
As clínicas fazem todo o possível para escolher casais receptores que tenham a maior semelhança possível com os doadores.
"Mas se você quer um casal doador no qual o homem seja um ruivo de 1,90 metro e a mulher uma loira maravilhosa de 1,70 metro, desista", disse Bromwich.
"É preciso que as pessoas entendam que mesmo que a criança não se pareça com elas, suas características comportamentais e emocionais, além de seus interesses, virão dos pais adotivos", explica.
O anonimato é mantido sempre -um casal não fica conhecendo o outro. Segundo Bromwich a maioria dos casais não se incomoda em implantar o filho genético de outro casal no útero da mulher.

Tradução de Clara Allain

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