São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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CAPITALISMO SEM RISCO

Em nome da acertada intenção de evitar uma corrida bancária, o governo terminou por passar a mensagem de que o Tesouro -ou o Banco Central- garantirá em 100% qualquer investimento financeiro. Sem distinguir entre o depositante desprevenido e o grande especulador, que arrisca conscientemente em troca de um rendimento maior, estaria se criando no Brasil um capitalismo sem risco -à custa do dinheiro público.
É auspicioso, nesse sentido, que, após o seminário promovido na última semana, o Banco Central esteja estudando alternativas ao desenho do Proer. A criação de um sistema de seguro bancário que assegurasse o correntista até um determinado limite, e para o qual os próprios bancos contribuíssem de modo a oferecer essa garantia adicional a seus clientes, seria uma maneira de dar maior estabilidade ao sistema bancário, sem incorrer em uma prática imoral de socorrer indiscriminadamente qualquer investidor.
A idéia em estudo pelo BC não é nem sequer novidade. Trata-se de um mecanismo análogo ao que há tempo existe nos Estados Unidos.
Nenhuma dessas possíveis mudanças dispensa o governo, evidentemente, de dar maiores esclarecimentos sobre a destinação dos R$ 13,96 bilhões já liberados pelo atual programa de ajuda à fusão de bancos, nem sobre o rombo com o qual o Erário arcará ao final dessas ainda obscuras operações.
É profundamente lamentável que a criação de um sistema claro e permanente de seguro para os correntistas só venha a ser estudado agora, depois que o Estado já comprometeu cerca de R$ 14 bilhões no Proer.
Afinal, a eliminação total do risco bancário, ainda que implícita, favorece atitudes especulativas, do tipo "quanto pior, melhor".
Se bem feita, a reformulação dos mecanismos de garantia do sistema bancário poderá evitar que se forme um perverso mercado sem risco.

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