São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Preparando melhor o futuro

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Gary Becker, Prêmio Nobel de Economia, é um homem especializado em preparação de gente. Para ele, um povo bem educado é o mais valioso capital de um país. Não há o que discutir.
No Brasil, todos conhecem o melancólico desempenho de nosso sistema educacional. É de fazer dó. Às portas do terceiro milênio, apenas 3% concluem o primeiro grau em oito anos. A maioria leva 10, 11 e 12 anos para completar esse ciclo, sendo que 45% abandonam a escola no meio do caminho.
O destino dessas crianças é, frequentemente, a rua. Meninos abandonados, meninas prostitutas e adolescentes passadores de drogas são elementos obrigatórios da nossa paisagem urbana, tanto nas capitais como no interior.
Nesse submundo, a selvageria é brutal. Uma pesquisa realizada em São Paulo mostrou que crianças de 10-12 anos vêm sendo "adotadas" por traficantes, tornando-se reféns pelo resto da vida.
Mais triste é saber que a maioria dos menores pesquisados gostaria de sair desse repugnante mundo-cão. São crianças que sonham em receber uma cesta básica para se alimentar melhor. Outras almejam frequentar escolas e cursos profissionalizantes. E muitas desejam uma oportunidade de trabalho.
O problema é crônico. Entra governo, sai governo e o quadro só se agrava. Muitos dizem que isso ultrapassa a capacidade dos governantes. É possível. Mas não justifica a inanição. O problema tem de ser combatido, com recursos, firmeza e criatividade.
Nesse sentido, será importante observar a evolução de um projeto recém-lançado pelo "Programa SOS Criança", em São Paulo.
A idéia é estimular as pessoas a trocarem a esmola que dão em dinheiro por um pagamento em "legal" -uma nova moeda com a qual os menores poderão comprar um sanduíche, pagar por um corte de cabelo, tomar um bom banho quente ou assistir a um vídeo educativo.
O objetivo é canalizar os recursos dos pedintes para itens de necessidade, afastando-os das drogas e da prostituição. As empresas e os cidadãos em geral serão levados a comprar e distribuir "legais" para as crianças de São Paulo. O projeto me parece muito válido.
Com algumas variações, essa estratégia é pregada pelo professor Gary Becker. Ele argumenta que as crianças pobres têm mais chance de permanecerem na escola se os seus pais receberem algum tipo de ajuda para tal.
O programa do "legal" está dentro desse conceito. O prêmio é dado diretamente às crianças. Mas nada impede que, mais adiante, ele seja estendido aos pais. Teríamos aí um reforço para ajudar a combater o abandono das nossas crianças.
Afinal, se cada um fizer um pouquinho, podemos alimentar a esperança de um futuro melhor.

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