São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996 |
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Lunardellis não querem ser Berdinazi
FRANCISCO MARTINS DA COSTA
Na novela, Berdinazi é um velho solitário que enganou a mãe, a irmã e o irmão para enriquecer e é conhecido na região onde vive como "rei do café". "É uma grande injustiça. Não é possível que seja uma simples coincidência", diz Zulmira Lunardelli, 68, nora de Geremia. Segundo ela, a história de seu sogro é oposta à do personagem. O italiano Geremia chegou ao Brasil com 1 ano de idade e desde criança trabalhou com os pais como colono em fazendas de café do interior de São Paulo. Ainda adolescente, comprou uma carroça e, depois, um sítio. Foi para o norte do Paraná e, nos anos 40, já era um grande produtor de café. Na década de 50, tinha 15 milhões de pés de café em plena produção na região de Sertãozinho, próximo a Ribeirão Preto. No início dos anos 60, morreu e deixou 9 filhos. "O mais interessante em toda sua trajetória é que, apesar de não saber ler nem escrever, sempre mostrou honestidade e seu aguçado tino para negócios", diz Zulmira. "Foi pelo menos de muito mau gosto, além de capcioso, colocar o nome de Geremias no personagem bandido da novela. Um não tem nada a ver com o outro", afirma. Reforma Agrária A questão da reforma agrária, tão discutida na novela, também era uma preocupação de Geremia Lunardelli. "Ao comprar uma propriedade, ele assentava famílias para cuidar de pequenas glebas", conta Zulmira, que vive em uma das fazendas da família em Itapura, no Estado de São Paulo, próximo à divisa com Mato Grosso do Sul. Para quem não se lembra, no Plano Cruzado, foi em uma dessas fazendas que o governo confiscou os bois que estariam sendo escondidos pelos proprietários. Imagem distorcida Além da nora, vários outros parentes de Geremia Lunardelli se mostraram indignados com a semelhança. "Como orgulhoso neto de Geremia, sinto-me também incomodado pela coincidência nominal de mau gosto e inadequada", afirma o arquiteto Eduardo Longo, que vive em São Paulo. Coincidência Segundo o autor da novela, Benedito Ruy Barbosa, tudo não passa de uma "grande coincidência". "Quando criei os personagens da novela, me inspirei em pessoas e lembranças da minha infância. Não conheci o sr. Lunardelli e nem foi minha intenção homenageá-lo ou mesmo citá-lo na hora de compor o Geremias Berdinazi." Assim como os Lunardelli, que escreveram cartas para a Rede Globo e para o autor criticando a semelhança entre os nomes, Barbosa conta que também recebeu reclamações de pessoas que se dizem parentes de "reis do gado" de várias partes do país. "Mas minha obra é pura ficção", garante. Texto Anterior: MTV aposta em festivais e clipes "hot" Próximo Texto: Série 'Diálogos Impertinentes' vai discutir a dor nesta terça Índice |
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