São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Novela cantada

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se você ligar seu televisor para assistir à novela das oito, poderá estranhar o fato de, ao invés dos atores, encontrar dois cantores: Sérgio Reis e Almir Sater. Isso não é novidade, uma vez que ambos já participaram de outras novelas, como "Ana Raio e Zé Trovão" e "Pantanal", por exemplo.
Aliás, tirando as multimídias conhecidas como Lolita Rodrigues e Zezé Motta, ou gênios da composição como Adoniram Barbosa e Mário Lago, muitos cantores já tentaram enveredar pela carreira de ator.
Na época das chanchadas da "Atlântida", todos os filmes apresentavam cantores da moda, como Emilinha Borba, as irmãs Batista, Dick Farney, Jorge Goulart e Nora Ney, em números musicais. Dóris Monteiro, dona da melhor dicção que já se registrou num disco, não só cantou num desses filmes, como ganhou prêmio de melhor atriz.
Na TV, a coisa continuou. Entra novela, sai novela, tá lá um cantor em participação especial: Ronaldo Resedá em "Plumas e Paetês", Cely Campello em "Estúpido Cupido", Supla, em "Sex Appeal", e, no momento, Thalma de Freitas em "Vira Lata".
Antônio Marcos foi protagonizado em "Toninho on the Rocks", cujo tema, cantado pelo próprio era "Prá Onde Eu Vou", do musical "Hair".
A maravilhosa Maysa atravessou o "Cafona" como um furacão, aterrissando em "Bel Amy", e Wilma Bentivegna deixou de lado seu "Hino ao Amor" para conhecer o "Moço Loiro".
Agnaldo Rayol estreou como ator em "Mãe", em 1964, e com todo respeito, virou uma "private joke" em sua segunda novela, "O Caminho das Estrelas", onde outro cantor, Wilson Miranda, também mudava de rumo.
Considerado o único cantor que poderia subir ao trono de "Rei da Voz" depois de Francisco Alves (que também se viu com personagem em alguns filmes como, por exemplo, "Berlim na Batucada" de 1944), Agnaldo foi literalmente coroado por seu amigo Renato Corte Real num programa especialmente produzido com esse intuito. Poderia se falar de tudo a seu respeito como ator, mas nunca como cantor.
Na novela, a cantor fazia o papel de um cantor, Carlos Dória. Num determinado capítulo, cantando seu sucesso "O Princípio e o Fim", o impossível aconteceu: ele perdeu a voz!!! Não Agnaldo, mas o personagem. A culpa era de Arlete Montenegro, a esposa. No fim, tudo terminava bem.
Assim como tudo terminava bem para Riva Nimitz em "Vidas Cruzadas", quando seu noivo, citado durante toda a novela, finalmente aparecia na pele de outro cantor: Moacir Franco, o maior sucesso da época.
Ultimamente temos visto o caminho inverso: Maurício Mattar lançou disco, Kadu Moliterno tem uma banda e Taumaturgo Ferreira faz shows. Em "Duas Vidas" Mario Gomes vivia Dino Cesar, um cantor em ascensão, que se não conseguiu emplacar no disco com sua garganta, emplacou a garganta com um colarzinho que fez furor na moçada da década de 70.

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