São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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Aluno 'distorce' texto no 2º grau

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é apenas o processo de alfabetização nas escolas públicas brasileiras que falha na formação de leitores. "O meu trabalho mostra que o ensino de leitura e escrita começa inadequado no 1º grau e continua assim até a universidade", diz a educadora Carmen Helena Moscoso Lobato, 37.
Em sua tese de mestrado (leia sumário), Lobato pesquisou como 200 alunos de 1ª série de 2º grau interpretam textos. Também analisou livros didáticos e assistiu au las de literatura e português.
Constatação numérica: de 17 protocolos verbais -técnica em que o aluno vai lendo o texto e dizendo o que pensa a respeito-, 12 apresentaram "apropriações".
"Apropriação de texto" é um conceito usado para descrever um processo de interpretação que atribui sentidos a um escrito que não estão contidos nele. "Cada texto tem um leque de possibilidades de interpretação, mas, na apropriação, o aluno extrapola."
Por exemplo, um texto jornalístico sobre o fenômeno da ressonância usa, para exemplificar o termo da física, a descrição da queda de uma ponte, provocada pela ressonância decorrente do vento.
"Sobre o que é o texto?", pergunta Lobato. "Sobre a queda de uma ponte", responde o aluno. "Por quê?", questiona a pesquisadora. "Ah, a senhora sabe, os jornais gostam de catástrofes."
Mais números: entre 80 pedidos de resumo de textos, 68 apresentaram "dificuldades sérias".
"O que eu tento mostrar é que o desgosto pela leitura se deve ao fato de que o aluno não sabe ler. Ou seja, eles não sabem construir os sentidos sugeridos pelo texto." Para ela, são atividades como a leitura em voz alta ou questionários que apenas exigem do aluno a localização, no texto, de certos nomes ou informações, que acabam provocando essa distorção na compreensão do que é leitura.
(FR)

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