São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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País usa reservas para defender peso

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O governo argentino anuncia a disposição de torrar o que for necessário de suas reservas em dólares para conter uma eventual corrida contra o peso, ao se abrirem hoje os mercados.
"Vamos vender US$ 1 bilhão. Se for pouco, US$ 2 bilhões. E, se necessário, US$ 3 bilhões", avisou o chanceler Guido di Tella, em reunião com líderes empresariais.
Para comparação: o teto do exemplo (US$ 3 bilhões) corresponde a quase 20% do total das reservas argentinas, estimadas em US$ 17 bilhões.
A declaração de di Tella faz parte do que o governo batizou como "Operação Tranquilidade", uma blitz propagandística para enfrentar o teste da reação dos mercados à demissão do ministro Domingo Cavallo.
'Operação Tranquilidade'
Razões para a blitz sobram: começam pelo fato de que Cavallo era uma espécie de símbolo do plano econômico que estabilizou a economia argentina, além de ter sido o ministro da Economia de mais longa permanência no posto (cinco anos e meio).
E continuam pela reação inicial da Bolsa de Valores ao nome do novo ministro, Roque Fernández: na sexta-feira, a Bolsa argentina vinha subindo um pouco (1,7%), mas despencou ao se conhecer o nome de Fernández (fechou em baixa de 4,1%).
No mercado cambial, algumas poucas casas de câmbio anotaram procura pelo dólar 30% acima do normal, no fechamento dos negócios na sexta-feira.
Horas decisivas
"As próximas 72 horas serão decisivas, em função da reação dos mercados", avalia o cientista político Rosendo Fraga, assessor informal de Cavallo.
A blitz oficial incluiu até uma operação do Side (Serviço de Inteligência do Estado, o SNI local) para checar preços no comércio, em especial nos supermercados.
O levantamento de preços, realizado a partir da tarde de sexta até 10h de sábado, não constatou anomalia alguma.
A "operação tranquilidade" envolveu ainda a convocação dos principais líderes empresariais à Casa Rosada, sede do governo, para pedir-lhes manifestações de apoio à nova situação, antes ainda da abertura dos mercados.
Deu certo. Saíram notas tanto da UIA (União Industrial Argentina) como dos bancos.
Empréstimo bancário
Destes, aliás, saiu mais do que uma nota. Manuel Sacerdote, do Banco de Boston, presidente da Abra (Associação de Bancos da República Argentina), disse que os bancos estão dispostos a emprestar dinheiro ao governo, a juros compensadores, para tapar o rombo nas contas públicas.
O déficit fiscal é a grande inquietação conjuntural: no primeiro semestre deste ano, o governo gastou US$ 2,508 bilhões mais do que arrecadou.
Acordo com o Fundo Monetário Internacional previa rombo de apenas US$ 1,475 bilhão.
Os especialistas acreditam que haverá custos com a troca do comando da economia.
Rosendo Fraga espera uma queda da Bolsa e do valor dos bônus argentinos no exterior, mas não um desabamento.
Reforça Luis Secco, porta-voz da consultoria de Miguel Ángel Broda, o economista que recusou sondagem para substituir o ministro Cavallo:
"É lógico que haja turbulências", tais como "queda dos ativos argentinos, aquecimento do dólar e leve saída de poupanças".

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