São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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70% dos argentinos aprovam demissão

17% crêem em mudança econômica

DE BUENOS AIRES

A demissão do ex-ministro da Economia Domingo Cavallo foi aprovada por 70,1% dos moradores de Buenos Aires e arredores, segundo uma pesquisa publicada ontem pelo jornal "Clarín".
O percentual que acredita em alterações na atual política econômica, no entanto, é bem menor: apenas 17%. A grande maioria (79,9%) acha que a mudança é de nomes, não do plano em si.
O resultado demonstra que a população assimilou bem a mensagem tranquilizadora que o presidente Carlos Menem tentou transmitir ao anunciar a demissão.
Menem insistiu na manutenção da paridade cambial entre o dólar e o peso, ponto central do plano idealizado por Cavallo em 1991.
Desinformação
O levantamento, realizado pelo Ceop (Centro de Estudos de Opinião Pública) também mostrou um alto grau de desinformação em relação ao novo homem-forte da economia, Roque Fernández.
Nada menos do que 62,6% disseram não conhecer Fernández o suficiente para opinar sobre sua nomeação. A escolha foi considerada "boa" ou "muito boa" por 20,7% e "má" ou "muito má" por 6,7%. Outros 10% optaram pela cotação "regular".
Até a última sexta-feira, o ministro ocupava o cargo de presidente do Banco Central. Sua atuação era considerada discreta.
Em maio, Fernández voltou às páginas dos jornais ao tentar explicar a injeção de US$ 171 milhões no BID (Banco Integrado Departamental) pouco antes de sua quebra -que deixou 137 mil clientes com depósitos retidos.
Apenas 21,5% dos entrevistados saíram em defesa de Cavallo. Nos primeiros anos do plano, marcados pela baixa inflação e altos níveis de consumo, a popularidade do ministro chegou a superar a do presidente Menem.
A imagem começou a sofrer um processo acentuado de desgaste em 1995, quando o país entrou em recessão por causa da crise mexicana. O poder aquisitivo caiu e o desemprego, que crescia desde 1991, atingiu o nível recorde de 18,6% em outubro do ano passado.
A impopularidade aumentou com a recente decretação de um pacote contra o déficit público, que eliminou as isenções fiscais sobre os tíquetes-refeição e provocou cortes no pagamento de salários-família.
Segundo um levantamento do Ministério do Trabalho, as medidas reduziram a renda de pelo menos 1,8 milhão de trabalhadores.
A CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), tradicionalmente dócil em relação ao governo Menem, convocou uma greve geral contra o pacote.
O jornal "Página 12" também publicou uma pesquisa que mostra alto grau de aprovação (62%) à saída de Cavallo. Apenas 18% dos entrevistados afirmaram que a situação do país vai melhorar com Roque Fernández.

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