São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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Sem distrações

JOAQUIM CARVALHO CRUZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Eu diria que minha expectativa para os 1.500 m é boa no momento. A Olimpíada, a competição, vai ser consequência do treinamento.
Se eu estiver bem, minha autoconfiança vai aumentar de uma forma que só Deus sabe. Na hora, ali, você consegue tirar uma energia muito forte de dentro e transformá-la em corrida.
Isso sempre foi meu forte. Eu sempre soube controlar as emoções, fazer com que aquele clima competitivo me traga resultados positivos. Graças a Deus, nunca tive problema de "ir para o outro lado".
Tive problema, sim, nos 1.500 m, porque deixei distrações me prejudicarem. Mas eu fui responsável por isso.
Em 84, fiquei doente. Em 88, tive aquele envolvimento com declarações sobre drogas. Dei uma declaração que todos queriam ouvir, mas que ninguém tinha coragem de falar.
Fui lá e abri minha boca. Falei a coisa errada na hora errada. Aquilo me prejudicou muito, e não deu para me concentrar legal. Os 1.500 m são mais concentração, porque são mais voltas. Mas vamos torcer para que este ano isso não aconteça. Torcer, não: não vai acontecer.
Como os 1.500 m são uma prova muito tática, o final dela vai depender muito da velocidade do atleta. O que estiver mais veloz e fizer a última volta em menos tempo é quem vai chegar na frente.
Ninguém vai correr para 3min35s as semifinais -espero. Mesmo na final, vai ser mais ou menos 3min35s baixo, 3min36s. No Troféu Brasil, em junho, fiz 3min40s, e foi minha terceira prova de 1.500 m este ano. Não corri muito essa prova.
O argelino Noureddine Morceli não é bem o favorito para Atlanta. Na última Olimpíada, ele era o favorito isolado. E ficou em quê? Sétimo lugar.
Esses atletas -Morceli, Steve Holman (EUA), Fermín Cacho (Espanha)- são atletas de um tiro só. Quando têm que dar dois, três tiros seguidos, não rendem bem, porque não treinam tão forte. Por isso você vê esses atletas correndo desde 1900 e bolinha. Eles não se machucam.
Minha preparação visa mais a grandes campeonatos. Vamos esperar que eles não tenham gás.
Claro que o Morceli está muito bem. Quer muito ganhar esta Olimpíada. É a única coisa que falta para ele. Mas garanto que os atletas que estão correndo atrás dele -o que é o meu caso, também- sabem que ele pisou na bola uma vez. Que ele pode pisar na bola novamente.

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