São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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Trem inspirou livro de Agatha Christie

DO ENVIADO ESPECIAL

Só uma pessoa é mais importante do que a escritora inglesa Agatha Christie na história do trem Venice Simplon Orient-Express: o empresário americano James Sherwood.
A "rainha do crime" -que morreu em 1976, aos 85 anos- popularizou o trem lendário no romance "Assassinato no Orient-Express", em 1934.
Já o empresário, que adquiriu em 1977 as primeiras partes do antigo trem em um leilão da Sotheby's, em Monte Carlo, investiu US$ 16 milhões na reconstituição minuciosa de 35 de seus vagões e o recolocou em marcha, em 1982.
Glória sobre trilhos
A primeira viagem do trem-mito, que agora roda entre Veneza, Paris e Londres, ocorreu em 1883. Na época, o Orient-Express ia até Constantinopla, atual Istambul.
"The train of the kings and the king of trains" (O trem dos reis e o rei dos trens) era lugar certo para encontrar escritores, nobres e aventureiros ilustres.
Cosima, filha do compositor Liszt e mulher de Richard Wagner, organizou a bordo festas que agitaram a Belle Époque.
O milionário armênio Calouste Gulbenkian, conhecido como "senhor 5%" porque fez fortuna em Portugal com o comércio internacional de petróleo, veio ainda bebê de Istambul, em 1896, enrolado num tapete da bagagem do pai.
Mas foram escritores como Graham Greene e a própria Agatha Christie que ajudaram a "glamourizar" o Orient-Express. Agatha Christie resolveu embarcar no trem depois de separar-se do primeiro marido, o militar belga Archibald Christie. Sua primeira idéia era viajar às Índias Ocidentais e à Jamaica, mas, num jantar com amigos, foi convencida a ir para Bagdá no Orient-Express.
Depois da última parada em Istambul -onde uma das locomotivas ainda está na velha estação ferroviária-, a escritora foi para Damasco e Bagdá cruzando o deserto.
Na bagagem trouxe a idéia de seu romance mais famoso, que conta mais uma história desvendada pelo detetive belga Hercule Poirot.
Provavelmente inspirado num médico belga e no seu ex-marido, Poirot se vê envolvido na investigação do assassinato de um empresário americano quando o trem está detido numa nevasca.
O cinema demorou 40 anos até transformar o romance num filme de Sidney Lumet, que estreou em 1975 com a presença da rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra.
Agatha Christie não gostou do filme, rodado na Inglaterra e na França, com Albert Finney no papel do detetive belga e elenco de estrelas como Lauren Bacall, Ingrid Bergman e Sean Connery. O filme custou US$ 3 milhões, mas não evitou a paralisação do Orient-Express, ocorrida em 1977.
O trem volta à cena
Quando James Sherwood iniciou sua recuperação, muitos dos vagões estavam encostados ao longo do trajeto original. E, em quatro anos, o grupo Sea Containers, presidido por Sherwood, recolocou o "trem-dos-sonhos" nos trilhos.
O trajeto foi abreviado, e o Orient-Express liga agora Londres a Veneza, percorrendo cerca de 1.490 km em 32 horas.
A atmosfera elegante ainda está lá, nos painéis de cristal que René Lalique desenhou para o restaurante, na ótima comida do "chef" Christian Bodiguel, nos funcionários alinhados. Mas, se comparado aos trens ultramodernos que rodam na Europa, o trem-palácio é um calhambeque Rolls-Royce.
Tem conforto em suas cabines, mas os banheiros -sem chuveiros- ficam nas extremidades dos vagões, o que pode ser desconfortável para o turista de hoje.
O Orient-Express tem cabines "singles" e "doubles". Elas se transformam em quartos. Com a mudança, os assentos viram camas, e a mesa dá lugar a uma pequena pia.
Mas é nos vagões onde funcionam o bar e o restaurante do Orient-Express que a festa acontece, embalada por um piano e por vinhos franceses excelentes, que são pagos à parte.

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