São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
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O uso de drogas e a Aids

CRISTINA MARIA BRITES; CELI DENISE CAVALLARI

CRISTINA MARIA BRITES
CELI DENISE CAVALLARI
A discussão sobre a relação entre o uso de drogas injetáveis e a disseminação do HIV e da Aids, gerada a partir de artigos nesta Folha, contribui para a reflexão crítica acerca das medidas de prevenção adotadas.
A metodologia da redução de danos, medida de saúde pública em alguns países, tem-se revelado eficaz no controle do HIV e da Aids. A estratégia foi utilizada frente à evidência da migração viral da população usuária de drogas endovenosas às populações não-usuárias.
Só no Estado de São Paulo, essa via de transmissão era responsável, em 1985, por 3,56% dos casos, passando para 32,14% em 1994.
O pressuposto analítico que motivou tais estratégias não se restringe aos resultados diretamente a ela associados, mas, antes, pela constatação histórica da falência dos modelos de tratamento à drogadependência e à exclusão social ampliada pela criminalização relacionada a algumas drogas.
A metodologia da redução de danos se antecipa às medidas de tratamento e possibilita a prevenção por considerar que o uso de drogas representa uma prática socialmente construída e complexa; as alternativas de tratamento não atingem as reais necessidades dos dependentes; os jovens estão expostos ao uso indevido de drogas; a linguagem e os conteúdos dos programas de prevenção, assim como as ações repressivas, são precários na redução do uso de droga e da Aids; é preciso refletir que a dependência e os riscos à saúde dela advindos são questões de saúde pública.
Essas reflexões foram feitas pelos países antes da adoção da estratégia e hoje comprovam sua eficácia. A redução de danos é muito mais do que troca de agulhas e seringas, pois viabiliza um vínculo com a população, possibilita o acesso a informações sobre riscos do uso de drogas; sensibiliza para prevenção e tratamento e respeita o cidadão, dependente ou não, que igual direito tem de se proteger de uma doença ainda incurável.
É preciso encarar uma discussão séria frente ao tema. Nossas considerações baseiam-se na pesquisa teórica, no acúmulo profissional dos integrantes de nossa organização e na participação em congressos nacionais e internacionais e de fóruns de Aids. O trabalho em prevenção, realizado pela Apta junto de vários segmentos da população, entre os quais o projeto "Aids e Uso de Drogas Injetáveis", é financiado pelo Ministério da Saúde, apoiado pelo Programa Estadual DST/Aids e pelo Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen).

Cristina Maria Brites, 32, é professora da Faculdade de Serviço Social da PUC-SP e coordenadora do projeto "Aids e Uso de Drogas Injetáveis" da Apta (Associação para Prevenção e Tratamento da Aids).
Celi Denise Cavallari, 37, psicanalista, é supervisora do projeto.

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