São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 1996
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Exército espera reação no caso Lamarca

RUI NOGUEIRA; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Chefes das Forças Armadas prevêem que eventual indenização à família do guerrilheiro causará mal-estar

Os chefes das Forças Armadas esperam reação dos militares da ativa de alta patente a uma eventual indenização à família do guerrilheiro Carlos Lamarca. Os ministros militares são contra a indenização e disseram isso ao presidente da República.
Os ministros também já definiram que a saída para esse dilema é pressionar, enquanto for possível, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos para rejeitar -ou adiar- a decisão sobre a indenização.
O presidente da comissão, Miguel Reale Júnior, disse ontem que desconhece qualquer tipo de pressão. A comissão, de sete membros, se reúne amanhã para analisar o caso Lamarca e o do guerrilheiro Carlos Marighella.
A Folha apurou que a pressão é para que algum conselheiro peça vista ao processo. Esse recurso jurídico adia o julgamento -o que favorece o surgimento de novas provas e argumentos.
Os militares não sabem se o presidente Fernando Henrique Cardoso vai assinar o decreto que autoriza o pagamento da indenização à família de Lamarca caso ela seja aprovada.
Mas, independentemente da decisão que FHC venha a tomar, ela será acatada.
Indenizações
As reações negativas dos militares da reserva já vêm ocorrendo. As dos militares da ativa, avaliam os comandantes, devem vir na forma de entrevistas ou notas lidas nos quartéis.
O ex-capitão do Exército Carlos Lamarca foi morto em 1974. Se vivo e se tivesse conseguido todas as promoções, hoje seria general-de-brigada (duas estrelas).
Para controlar as reações do pessoal da ativa, especialmente dos contemporâneos de Lamarca, os comandantes vão lembrar que a indenização e o reconhecimento da responsabilidade do Estado na morte do guerrilheiro não implica investigações posteriores para apurar responsabilidades individuais.
Na visão dos militares, a Lei da Anistia, assinada em agosto de 1979, impede esse tipo de investigação.
Caso seja aprovada a indenização, o Exército quer que, no mínimo, a comissão reconheça que Lamarca foi morto em uma operação militar que implicou um cerco. Isso amenizará as críticas à Força.

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