São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 1996
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Rivaldo-96 é semelhante a Raí-94

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Vejo Rivaldo nesta Olimpíada e me lembro de Raí na Copa: ambos chegaram às duas maiores competições mundiais com a estrela de supercraques estampada na testa. Raí sucumbiu finda a primeira fase; Rivaldo, pelos ecos que nos chegam de Athens, cumpriu seu ciclo antes das semifinais.
É bem verdade que Raí já vinha há tempos jogando mal no São Paulo, mas Parreira acreditava tanto no nosso craque que promoveu-o a capitão, já antevendo o ritual por nós inventado do erguimento da taça.
Taticamente, Raí cumpria a função que melhor se ajustava ao seu perfil futebolístico: o de organizador das jogadas, com liberdade para chegar na área inimiga no instante da conclusão. Fisicamente, estava tinindo. O que aconteceu com Raí, afinal? Até hoje não sei. Desconfio que algo, algum fio, soltou-se lá dentro. E o sistema de Raí só foi se recompor no PSG uma temporada depois.
Já Rivaldo, não: chegou na seleção no esplendor de sua forma física e técnica. Acabara de ser eleito o melhor jogador do Brasil, não pelo torcedor fanático ou pelo cronista deslumbrado, mas por seus próprios pares. Isso, numa temporada em que fulgiam talentos como os de Giovanni, Marcelinho, Romário, Sávio e cia.
Seu posicionamento tático é exatamente o mesmo que cumpria no Palmeiras e na própria seleção de Zagallo: fechar o lado esquerdo, como terceiro volante, armar as jogadas de ataque, juntamente com Juninho, e chegar para a finalização. Três em um. Muito para a maioria dos jogadores, mas normal para ele. Até agora, uma decepção nas três funções.
Afinal, o que há de comum entre Rivaldo e Raí, além do talento que escapa na hora da grande competição? Ambos foram o centro de milionárias transferências, em cima da bucha. Será?
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Essas coisas acontecem. Os mais jovens, por certo, não se recordam de Mazzola. Pois Mazzola era titular da seleção de ouro. Veloz, decidido, goleador, era o par ideal de Pelé, na cabeça de Feola e do dr. Paulo Machado de Carvalho.
Já às vésperas da Copa sueca, durante os preparativos da nossa seleção na Europa, Mazzola foi negociado pelo Palmeiras com o futebol italiano. As liras viraram-lhe a cabeça, e, depois do empate contra a Inglaterra, no segundo jogo das oitavas-de-final da Copa de 58, Mazzola foi para a reserva definitiva.
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Um frio me percorre a espinha quando penso no jogo de hoje contra a Nigéria. Não que os nigerianos sejam lá essas coisas, embora estejam num nível próximo de brasileiros e argentinos, os melhores do torneio até agora. São falhos na defesa, sobretudo na saída de bola, a exemplo da maioria dos times africanos, o que sugere uma marcação por pressão, que o Brasil não fará por medo dos seus rápidos contragolpes. Esta, sim, uma arma letal, embora os atacantes nigerianos sejam afobados na finalização.
Assim como o jogo aéreo para esse espigado Kanu, uma espécie de herdeiro do legendário húngaro Hideghuti, centroavante dissimulado que vem aqui armar a jogada para, de súbito, dar o bote de artilheiro na área. Mas essa não tem sido uma jogada explorada pela Nigéria nesta Olimpíada.
Eis por que sou capaz de apostar na entrada de Amaral no lugar de Rivaldo, como um estratagema para tentar fechar os buracos na nossa defesa. Zagallo incorporou o espírito de Parreira-94, o que, nas circunstâncias, é até sensato: evitar o erro, antes de mais nada, embora não se entenda por que nossa defesa segue jogando em linha, mamão com mel para contragolpes.

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