São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Inteligência na TV

GILBERTO DIMENSTEIN

Ao completar 18 anos, o americano já assistiu na televisão a 40 mil assassinatos e 200 mil agressões. Essa é mais uma das estatísticas que municiam o tiroteio contra um dos sacos de pancadas prediletos dos americanos: emissoras comerciais.
Apoiada em centenas de pesquisas sobre efeitos negativos da TV na formação das crianças, a ofensiva de pais, professores, psicólogos e médicos se espalhou pelo país, obtendo ontem uma vitória expressiva.
Pressionadas, as emissoras anunciaram que se comprometem a transmitir semanalmente no mínimo três horas de programação educativa.
*
A vitória é também consequência da sucessão presidencial. De olho nas pesquisas de opinião, Bill Clinton colocou as redes na parede e condicionou a renovação das concessões aos programas educativos.
Os empresários reclamaram, disseram (com razão) que Clinton estava movido por votos, mas perceberam que iam acabar perdendo a batalha.
Eles, afinal, tinham perdido outra batalha e vão se submeter a um aparelho instalado dentro dos aparelhos, pilotado pelos pais, que impede a recepção de filmes considerados impróprios.
*
Num lance de pragmática esperteza, preferiram não enfrentar a onda, adiantaram-se à pressão e anunciaram eles próprios os novos programas. Os americanos mostram nas pesquisas que desejam mais educação na TV, responsabilizada pela degeneração de costumes, a começar da violência -o que é um exagero, claro.
*
São dezenas as causas da violência, cada qual agindo de forma diferente em cada comunidade. Mas apenas uma mula-sem-cabeça deixaria de reconhecer que o bombardeio diário de lixo visual influencia, em algum grau, negativamente.
Há toneladas de experiências de psicólogos que submeteram crianças a vídeos sangrentos e, rapidamente, se constatou aumento da agressividade.
*
Esse debate traz uma lição aos brasileiros. Quando mais se aprofunda a democracia, menos as pessoas ficam cobrando apenas do poder público as soluções.
Por isso, uma dos sinais do avanço no Brasil é que empresários começam a falar em apoiar escolas públicas.
Todos sabem que os governos poderiam fazer muito mais para melhorar a educação brasileira; mas os meios de comunicação, vamos ser honestos, também poderiam fazer muitíssimo mais.
*
PS - Reconhecimento: Henrique Meirelles, que deixa o Brasil para comandar mundialmente o Banco de Boston, estimulou através da Câmara de Comércio Brasil-EUA projetos educacionais em escolas públicas, transformadas em modelos.
Ele também esteve por trás de um extraordinário projeto do sindicato dos bancários para educar meninos e meninas de rua do centro de São Paulo.
Não sei se o Banco de Boston ganhou com a mudança, mas o país perde quando espécimes raros como este vão embora.

E-mail GDimen@aol.com
Fax (001-212)873-1045

Texto Anterior: EUA acham novos destroços do Boeing
Próximo Texto: Avião na Alemanha; Avião na Itália; Segurança extra; Ajuda da ONU
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.