São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Galinha com mamão

JANIO DE FREITAS

As recomendações do comando do PSDB aos seus candidatos, seja a prefeito ou vereador, à primeira vista refletem uma discordância frontal dos peessedebistas com a política social do seu governo. Entre os pontos fundamentais da sua propaganda eleitoral, cada candidato peessedebista deve sempre destacar o problema do desemprego, enfatizando o seu propósito de combatê-lo.
Não há, porém, a aparente discordância entre os peessedebistas e a política do seu governo. A recomendação não passa de uso, no nível mais indigno, do recurso outrora tão criticado por tantos dos atuais peessedebistas: o conto-do-vigário das intenções mentirosas.
As recomendações não foram selecionadas entre propósitos do partido, cujos integrantes no Congresso, para nem citar os do governo, não tiveram nem a mais simplória atitude contra o crescimento do desemprego. As recomendações foram alinhavadas a partir de pesquisas sobre insatisfações que influirão na escolha do voto. A oposição ao desemprego é um dos assuntos que mais prometem alto rendimento eleitoral, porque imbatível nas regiões industriais.
Galinhas sempre
"É galinha morta" - era assim que José Serra, quando moço, ou, vá lá de camaradagem, quando mais moço, se referia aos adversários de qualquer gênero. Os mesmos que, mais tarde, o levavam à expressão "está no papo". No que se demonstra, ainda mais do que a presença variada dos galináceos na linguagem, a antiguidade deles na preferência utilitária dos peessedebistas, que se supunha nascida com os frangos do real.
Talvez porque mais fiel às palavras do que às idéias, o José Serra de hoje restabeleceu o convívio com a velha fórmula: o conjunto que anima os seus eventos de campanha é o Galinha Morta. Mas não se sabe se a escolha é nostalgia ou prenúncio.
O vilão
Os economistas estão arrepiados. Esperavam que o IGP-M, um índice geral de preços medido pela Fundação Getúlio Vargas, não ultrapassasse muito o 1% de junho, mas subiu mais de um terço, ficando em 1,35%.
Não era para menos. O índice conseguiu, como é próprio de todos os índices de inflação, fechar os olhos para a nova onda de aumento dos aluguéis (aluguéis são tão invisíveis quanto as mensalidades escolares). Conseguiu escapar do chuchu sorrateiro, que já por duas vezes deu indigestão em todos os índices. Mas foi surpreendido pelo mamão, que subiu 133%, influiu no Índice de Preços no Atacado e daí chegou ao desprevenido IGP-M.
Pelo visto, os 70 milhões de pobretões desandaram a servir mamãozinho entre as suas frutas do desjejum, na sobremesa dos almoços e jantares e, pode-se presumir, até nos banquetes. Aí, o preço subiu -o que não faz diferença para aquele pessoal.

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