São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Jornalista forjou ataque, diz Argentina

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

O chefe da Polícia Federal argentina, Adrián Pelachi, disse ontem que foi uma farsa o suposto atentado contra o jornalista Santiago Pinetta, que teria ocorrido na madrugada de anteontem.
Pinetta, autor das primeiras denúncias de superfaturamento no contrato entre o Banco da Nação Argentina e a IBM -posteriormente comprovadas pela Justiça-, disse ter sido espancado por quatro desconhecidos, que teriam tatuado "IBM" em seu peito.
"No momento em que chegou ao hospital, o jornalista tinha ferimentos no rosto, mas não no tórax", disse Pelachi, citando o testemunho de um diretor do hospital.
Liberado por volta das 2h, Pinetta procurou outro hospital pouco antes das 6h. No local, os médicos constaram a inscrição da sigla, que teria sido feita com um "pequeno objeto pontiagudo". No total, o jornalista apresentava 25 arranhões no tórax. A denúncia do chefe da Polícia Federal foi feita no início da noite, na Casa Rosada.
À tarde, entrevistado pela Folha, Pinetta se apresentou como vítima de "uma quadrilha de delinquentes públicos" -integrantes do governo que estariam "se apoderando das riquezas da Argentina".
O suposto atentado levou a IBM a divulgar uma nota de solidariedade ao jornalista. "Tenho certeza de que não foi a IBM, pois a empresa não procuraria melhorar sua imagem com publicidade no meu peito", ironizou Pinetta, que há dois anos escreveu o livro "A Nação Roubada", ponto de partida para as investigações judiciais sobre o escândalo.
Se estava em busca de publicidade, o jornalista atingiu seu objetivo. Ontem, ele deu entrevistas para redes de TV dos Estados Unidos, da Espanha e da Holanda, além de jornais de vários países.
À Folha disse que apresentaria em breve à Justiça dois "pacotes" de provas de irregularidades no contrato entre a IBM e o Banco da Nação Argentina.
"O primeiro pacote de provas mostrará se o então ministro da Economia, Domingo Cavallo, sabia ou não das irregularidades. É a pergunta que todo o país vem fazendo desde que estourou o escândalo", afirmou.
Um dos 37 processados pelo caso é Aldo Dadone, indicado por Cavallo para a presidência do banco. O então ministro da Economia deu respaldo público a Dadone até que este teve de renunciar, quando o processo foi aberto.
O outro pacote, segundo Pinetta, demonstrará que vários integrantes do governo participaram de reuniões secretas em um hotel de Buenos Aires na época em que os detalhes do contrato -no valor de US$ 250 milhões- estavam sendo discutidos.
O contrato foi anulado pelo governo recentemente. A Justiça constatou que US$ 37 milhões foram pagos em propinas na operação. O dinheiro foi depositado em bancos da Suíça e dos Estados Unidos, em contas cujos titulares ainda não foram revelados.

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