São Paulo, sábado, 3 de agosto de 1996
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Opressão levou Camille Claudel à loucura

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Camille Claudel, escultora francesa nascida em 8 de dezembro de 1864, discípula e amante do também escultor consagrado Auguste Rodin (1840-1917) começa a sair da sombra do mestre.
Mais conhecida aqui pelo filme "Camille Claudel" (1995), de Bruno Nuytten, com Isabelle Adjani, a escultora ganha agora o primeiro trabalho já escrito em português sobre sua vida e obra.
A psicoterapeuta Liliana Liviano Wahba passou três anos pesquisando em bibliotecas e museus franceses para escrever uma análise da psique criativa de Camille.
Claudel é um caso clínico, típico do limiar entre criação e loucura. Aos 49 anos foi internada em um asilo, vítima de "psicose paranóide". Parou de criar e passou o resto da vida, até os 79 anos, isolada de tudo e abandonada por todos.
Liliana Wahba disse à Folha que Camille Claudel enlouqueceu também porque ousou competir em um mercado masculino, fazendo esculturas de nus, em uma época em que não havia mulheres escultoras, em que os críticos se espantavam com a "genialidade masculina de Camille" e em que "se dizia que a mulher não era capaz de criar porque mulher copia".
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Folha - Que aspecto da relação entre criação e loucura você analisa no caso de Camille Claudel?
Liliana Wahba - Eu quis ver o que acontece com uma personalidade criativa quando ela é reprimida, seja por uma questão sócio-cultural, pela dinâmica familiar, por um problema pessoal, que se chama em psicologia de identificações primárias mal resolvidas. Camille tinha problemas com a mãe e com o pai muito rígido.
Folha - O fato de ela ser mulher contribuiu para seu isolamento?
Wahba - Ah, muito, muito. Ela estava rodeada de dois homens muito fortes e famosos, Paul Claudel, o irmão literato e diplomata, e Rodin. Ela ousou duplamente, por ser uma mulher escultora, o que era raro, e por escolher temas, como os nus, que não eram adequados para uma mulher. Por ser mulher, ela foi discriminada no mercado de artes. Sua personalidade começou a ser desmontada também por causa disso, além de todo o abandono sofrido, primeiro na infância, pela mãe que a rejeitou, e depois por Rodin, que não se casou com ela.
Folha - Por que você escolheu Camille Claudel?
Wahba - Porque fiquei realmente impressionada com sua obra quando a conheci. A grandiosidade da obra, a personalidade dela e o momento cultural em que viveu, tudo isso junto me fez querer compreender como a emergência desse ser único que vai criar depende de todas essas camadas e de que maneira elas vão se dinamizar em uma história pessoal.

Livro: "Camille Claudel: Criação e Loucura"
Autora: Liliana Liviano Wahba
Preço: R$ 20,00

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