São Paulo, sábado, 3 de agosto de 1996 |
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Artista expõe roupa suja na Pinacoteca
CEM
Com essa idéia na cabeça, Mercedes vem trabalhando com reproduções xerográficas dos vestuários mais distintos. Ela xeroca pedaços das roupas para depois remontá-las sobre painéis escuros. O caminho que a artista percorre nessas séries de reproduções passa por uma bifurcação. Na primeira trilha está a tentativa de entender o outro através de suas roupas. Seguindo essas pedras, Mercedes foi até a Tailândia tentando entender como as roupas tradicionais, típicas, deram lugar às calças jeans e aos tênis Nike. Um shopping foi o palco em que ela ergueu suas releituras de trajes antigos de índios do país. No outro extremo, está o desejo de mostrar o que lhe é mais íntimo. As duas exposições que ela inaugura em São Paulo têm um pouco de cada um dos percursos. A mais imponente, a série "Roupa Suja", pertence claramente à segunda categoria. Nos painéis, pendurados em fios de náilon, tal como roupas no varal, estão reproduções de trajes velhos, da artista e de sua filha. Nas bordas dos quadros escuros, escreveu textos que formam uma espécie de diário: "são mais para irritar", já que as pessoas não conseguem entender as frases tortuosas em português e alemão. Segundo a artista, ao abrir seu guarda-roupas ao público, mostra seu "portrait", um retrato íntimo. Mercedes concorda com Andy Warhol, que disse que preferia ver uma pessoa comprando roupas íntimas a ler um livro dela. Tanto que, ainda neste mês, ela expõe seus sutiãs e calcinhas no MAM do Rio de Janeiro. A segunda exposição da artista na Pinacoteca é composta por painéis que reconstroem vestidos de noiva, comprados na rua São Caetano. Apesar de classificar o vestido de noiva como um uniforme mundial, Mercedes enxerga nesses trajes idiossincrasias dos paulistanos. No ano que vem, a artista pretende continuar rastreando os vestuários do mundo, desta vez no Japão. Porém, não deve demorar para voltar ao Brasil. Na Alemanha, Mercedes sente falta do sol brasileiro. Como ela disse, misturando o português ao alemão, gosta de vir para cá "tanquear", ou seja, "recarregar as baterias". Contrariando o dito popular, volta em breve, para mostrar que roupa suja não se lava só em casa. Exposições: "Roupa Suja" e "Noivas" Onde: Pinacoteca do Estado (av. Tiradentes, 141, tel. 227-6329) Quando: Hoje (3), das 15h às 18h. Ter a sex, das 11h às 18h. Sáb e dom, das 13h às 18h Texto Anterior: Ciclo na USP revisita a Marguerite Duras cineasta Próximo Texto: 'Álbum' mostra família como tragédia e farsa Índice |
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