São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Gestão do PT seduz sem fazer grande obra

ELEONORA DE LUCENA
DA REDAÇÃO

Tradicionalmente polarizada, Porto Alegre vive situação inédita na sua história recente. É governada desde 89 pelo mesmo partido, o dos Trabalhadores, e o atual prefeito, Tarso Genro, 49, tem desempenho avaliado como ótimo e bom por 72% da população.
O candidato da situação é líder absoluto na pesquisa Datafolha para a sucessão -tem 46% da preferência, enquanto o segundo colocado tem 14%. É grande a possibilidade de o PT entrar no Palácio Municipal pelo terceiro mandato consecutivo, quebrando a prática da alternância de poder.
Feito semelhante, descontado o período do regime militar, só ocorreu há cem anos, quando o engenheiro José Montaury de Aguiar Leitão governou a cidade.
Foram 28 anos (1897-1924) de administração, avaliada pelo historiador Walter Spalding como "não muito fecunda, mas honestíssima".
A gestão de Tarso Genro não tem grandes obras para mostrar. Não há viadutos, túneis ou grandes avenidas em construção. Pequenas benfeitorias estão esparramadas pelos bairros. Quem passeia pelas cidade pode observar uma relativa limpeza nas ruas e praças. Todos, inclusive a oposição, consideram o prefeito um homem honesto.
Mais imposto
Tarso Genro credita boa parte do sucesso do PT na cidade ao Orçamento participativo, um intricado sistema decisório que estabelece prioridades de investimentos a partir de consultas em assembléias nas 16 regiões de Porto Alegre.
"Nossa marca é o Orçamento participativo, a democratização da esfera pública municipal, o projeto cidade constituinte, uma constelação de conselhos; é a combinação de democracia direta com a democracia representativa", afirma Genro.
O prefeito apresenta como um dos resultados da gestão petista o salto no indicador de saneamento básico: a população atendida pelo serviço passou de 53% em 89 para 85% hoje. Diz também que o déficit de ruas sem pavimentação, que era de 500 km, caiu em 50%.
Para conseguir recursos para as obras, foi feita em 90 uma reforma tributária na cidade.
A arrecadação do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) pulou de 3,4% para 15% da receita do município.
O governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto (PMDB), 44, protesta contra o que chama de "técnica de vitrinismo" do PT.
Segundo ele, o Estado cuida de 82% dos alunos da cidade, e, dos 100 postos de saúde existentes, só 8 são do município (a prefeitura diz que são 15 e lembra que, neste mês, começa a transferência de serviços para a esfera municipal).
"Eles fogem de bola dividida e aí fica fácil fazer governo-vitrine. Só faz isso quem não tem que cuidar do todo", afirma Britto.
(EL)

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