São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Teimosia

SÍLVIO LANCELLOTTI

No IBC de Atlanta, o edifício que congrega os profissionais da mídia eletrônica dos Jogos Olímpicos de 1996, apenas uma parede separa a Argentina e o Brasil.
Foi possível escutar a gritaria dos platinos quando a seleção da Nigéria tirou o Brasil da final do futebol, ao derrotá-lo por 4 a 3.
Os platinos, aliás, mais deliravam com a eliminação de seus melhores rivais do que vibraram com o sucesso do seu time, que ganhara de Portugal no dia anterior.
"Eu temia bastante o Brasil", contou-me César Luís Menotti, o treinador campeão do planeta em 1978, hoje comentarista de uma emissora de TV de Buenos Aires.
"Sinceramente não imaginava que o Brasil fosse entregar o jogo à Nigéria da maneira como aconteceu."
Perfeito o verbo empregado por Menotti: "entregar".
Culpa do ufanismo crônico do mister Mario zagallo, invariavelmente teimoso e incapaz de escutar as opiniões alheias.
Na véspera da partida, numa entrevista coletiva, o rude Zagallo esculhambou a imprensa do Brasil, em particular os comentaristas de TV.
Só não utilizou palavrões na sua reação descontrolada, o rosto vermelho, a voz muito elevada, num tom de ferir os microfones.
Para Zagallo, tudo está sempre impecável. Zagallo tem sempre razão.
Pena, teimoso ao ignorar Romário, o melhor finalizador do planeta, Zagallo se mostrou pior ainda ao não enxergar os erros crônicos da defesa do Brasil, em especial, no seu miolo de zaga, com um esfalfado Aldair e um incompetente Ronaldo.
"Foi infantil o comportamento da defesa do Brasil no final do jogo com a Nigéria", arrematou Minotti.
"Numa decisão, 3 x 1, 75 minutos de partida, beque tem que chutar a bola no mar", raciocinou o treinador argentino.

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