São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tecido 'inteligente' não encolhe, esquenta no frio e esfria no calor

VANESSA DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Parece ficção científica: uma roupa que não encolhe e, melhor, não deixa a pessoa que o usa sentir muito calor -quando a temperatura está alta- nem muito frio -quando a temperatura do ambiente é baixa.
Dois pesquisadores do Centro Regional de Pesquisas do Departamento de Agricultura dos EUA, em Nova Orleans, desenvolveram um tecido capaz de responder de forma inteligente a mudanças de temperatura do ambiente.
"Um tecido normalmente se aquece quando a temperatura ambiente aumenta", disse Tyrone Vigo, um dos autores do estudo, à Folha.
A princípio, quando está calor, o tecido esfria entre 1°C e 12°C. "Embora depois ele se vá se aquecendo, sua temperatura leva muito mais tempo para subir do que um tecido normal quando exposto a altas temperaturas", diz Vigo.
Cobertura de moléculas
Um tecido -por exemplo, o algodão- é coberto com uma película de polietileno glicol (PEG), um composto formado pela reunião de milhares de moléculas que contêm oxigênio, carbono e hidrogênio.
O funcionamento do tecido inteligente se baseia no tipo de fenômeno químico que acontece em sua superfície, quer dizer, com as moléculas de PEG.
Quando a temperatura sobe, boa parte da energia que seria usada para esquentar o tecido é empregada para quebrar um tipo de ligação química entre o oxigênio e o hidrogênio -a ponte de hidrogênio-, o que absorve calor.
"O mesmo acontece, por exemplo, quando colocamos um cubo de gelo num copo d'água. O gelo vai derretendo sem que a temperatura mude: a energia é utilizada na passagem do sólido ao líquido", explica Frank Quina, do Instituto de Química da USP.
Quando a temperatura abaixa, as pontes de hidrogênio voltam a se formar, um processo químico que libera calor. Por isso o tecido se aquece.
Roupa que não encolhe
Outra habilidade do tecido desenvolvido pelos pesquisadores é a capacidade de ele voltar às dimensões originais depois de seco.
Segundo Vigo, uma das aplicações do tecido seria a confecção de bandagens.
Quando expostas ao sangue -formado em sua maioria de água- o tecido, que encolhe em até 35% quando molhado, ajudaria o ferimento a parar de sangrar. Ao secar o sangue, a bandagem livraria a pressão.
A película de PEG que recobre o tecido tem também uma característica interessante, a de aumentar a condutividade térmica do tecido.
"Por conduzir facilmente o calor, a pessoa que o estaria vestindo sentiria menos calor, já que o tecido permite a passagem dele mais facilmente do corpo para o meio ambiente", diz Yoshio Kawano, do Instituto de Química da USP.

Texto Anterior: O fictício milagre japonês
Próximo Texto: Material pode ir ao espaço
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.