São Paulo, segunda-feira, 5 de agosto de 1996
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Brasileiro é morto na Argentina

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

O brasileiro Elias Faria, 52, foi espancado e morto sábado, depois de comemorar a vitória da seleção da Nigéria sobre a Argentina em um bar no bairro de Colegiales, Buenos Aires.
Ontem, a agência oficial "Telam" anunciou a prisão de Raúl Haeg, 50, e Roberto Farías, acusados do crime. Dois suspeitos, um motorista e um florista -"Fernando"-, estão desaparecidos.
Segundo a paraguaia Zunilda Mendoza, que vivia com Faria há cerca de dois anos na capital argentina, o crime foi premeditado. "O filho do vendedor de flores aqui do bairro viu a comemoração e esperou meu marido na porta do bar, com outros delinquentes."
Os detalhes sobre a agressão foram relatados a Zunilda pelo brasileiro Mário Lakosky, que estava com Faria no bar. Lakosky também foi agredido, mas sofreu apenas ferimentos leves. O espancamento também foi presenciado pela filha de Zunilda, Gisele, 8.
O corpo de Faria deve ser enterrado em Buenos Aires, segundo o cônsul-adjunto do Brasil em Buenos Aires, Alexandre Campelo.
Faria, nascido em Guaíra (SP), dizia à mulher e aos amigos que era primo distante do jogador Romário. O pai do jogador, Edevair de Souza, negou ontem o parentesco.
O brasileiro recebia pensão por invalidez como ex-piloto da Aeronáutica. "Ele sofreu um acidente e tinha uma placa de platina na cabeça", disse Edwiges González, uma vizinha que cortou os cabelos do brasileiro cinco dias atrás.
Segundo o relato de Lakosky a Zunilda, Faria teve morte imediata ao receber pancadas na cabeça.
Faria já havia viajado para a Nigéria a serviço, trabalhando para uma empresa angolana de aviação.
Depois do acidente, Faria começou a trabalhar como técnico em eletricidade industrial.
Ambos decidiram se mudar para a Argentina por problemas "econômicos e familiares", segundo Zunilda. Moravam em uma pensão em um bairro de classe baixa, pagando US$ 320 por mês pelo aluguel de um quarto.
Faria era imigrante ilegal e vivia de trabalhos eventuais como eletricista. "Muitas vezes nem nos pagavam, porque ele não tinha a quem recorrer, por ser estrangeiro", disse Zunilda. Segundo ela, Faria não gostava dos argentinos, a quem considerava "petulantes".
O ex-piloto não era fanático por futebol, de acordo com o relato da mulher. "Comemorou o gol porque havia apostado US$ 150 na vitória da Nigéria."

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