São Paulo, segunda-feira, 5 de agosto de 1996
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Gramado faz festival de transição

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Que sirva de alerta: Gramado-96 adia mais um ano o festival da retomada da produção cinematográfica brasileira e realiza a partir desta sexta um evento híbrido.
Dez longas de origem latina e seis brasileiros participam de competições independentes, simultaneamente às disputas de curtas 35 mm e 16 mm, de filmes super 8 e de prêmios regionais. A 24ª edição do mais tradicional festival do país acontece até o próximo dia 17.
Os eufóricos de plantão são refreados pela modesta lista de longas nacionais. Não será Gramado o palco da renovação anunciada.
Por motivos distintos, ficaram de fora os longas de estréia de Beto Brant, Cecílio Neto, Mara Mourão, Sandra Werneck e Tata Amaral, quase todos da geração da "primavera do curta" que nos próximos meses devem oxigenar uma safra pouco emocionante.
Dois títulos destacam-se entre os convidados para a disputa nacional: "Como Nascem os Anjos", de Murilo Salles, e "Quem Matou Pixote?", de José Joffily. O terceiro inédito do grupo, "O Monge e A Filha do Carrasco", merece atenção por trazer a assinatura do subestimado Walter Lima Jr. na direção, ainda que em projeto assumidamente menos pessoal.
Os três demais concorrentes chegam a Gramado desprovidos tanto do charme do novo quanto do prestígio de crítica.
"Corisco e Dadá", de Rosemberg Cariri, é um filme menos vulcanicamente canhestro que seu anterior ("A Saga do Guerreiro Alumioso"), mas nada acrescenta ao gênero do cangaço, em voga.
"Dezesseis Zero Sessenta", presença constante há um ano no circuito de festivais, é uma irregularíssima comédia social politicamente incorreta do estreante Vinícius Mainardi. Por fim, "As Meninas", de Emiliano Ribeiro, não empolgou nas telas paulistanas.
A disputa latina tem dois favoritos. "Guantanamera", de Tomás Gutiérrez Alea (1928-1996), e Juan Carlos Tabío, a mesma dupla do vencedor gramadense "Morango e Chocolate", é o retrato definitivo, em tom cômico, do "período especial" da Cuba pós-89.
Outro par, ainda mais célebre, os irmãos Paolo e Vittorio Taviani, alcança na versão de "Afinidades Eletivas", de Goethe, o mais alto degrau recente de sua filmografia.
Não se pode, contudo, menosprezar a concorrência de revelações recentes, como o venezuelano José Novoa, de "Sicário", premiado em Tóquio-95, e do chileno radicado na Espanha Alejandro Amenábar, 24, aplaudido em Berlim-96 pelo policial "Tesis".
No campo oposto, o chileno "Mi Ultimo Hombre" e o colombiano "Édipo Alcaide" não conquistaram exatamente fãs nas mostras paralelas de Cannes -apesar do segundo exibir como co-roteirista ninguém menos que Gabriel García Márques.

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