São Paulo, quinta-feira, 8 de agosto de 1996
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As contas do vigário

ROBERTO PAULO RICHTER

Mais de 80% da população, segundo Ibope e Datafolha, aprovam o PAS, Plano de Atendimento à Saúde.
Pesquisa Ibope entre clientes do PAS: a maioria absoluta, 51%, deu-lhe nota dez.
Entidades corporativas pedem que Fernando Henrique aprove o salário de R$ 1.090 para os médicos, por 20 horas semanais. No Espírito Santo, os médicos recebem R$ 600 e pedem R$ 1.330; o governador, do PT, oferece até R$ 1.090. Em São Paulo, o piso para médicos é R$ 443. No PAS, que Maluf implantou, os médicos ganham no mínimo R$ 3.200 mensais por 20 horas semanais.
A União criou novo imposto para a saúde. A prefeitura, com o PAS, melhorou o atendimento e multiplicou a remuneração, sem novos impostos.
Quem está insatisfeito? Os corporativistas, os políticos contrários a Maluf, os que detestam mudanças. Corporativistas e políticos criticam o PAS, que multiplicou a remuneração dos profissionais da saúde, e pedem ao presidente, num anúncio cheio de erros que pessoas com curso superior não poderiam cometer, a "sansão" (assim mesmo: Sansão, aquele da Dalila) de um projeto que fixa salário 2/3 inferior ao do PAS.
Outro insatisfeito é o padre Fernando Altenmeyer, vigário para Comunicação da Arquidiocese de São Paulo. O vigário Altenmeyer mandou afixar outdoors contra o PAS, que seria "inconstitucional e autoritário". O plano "autoritário" foi aprovado pela Câmara, após nove meses de discussões, e é aceito pelo povo a tal ponto que todos os candidatos prometem mantê-lo.
Autoritário, na opinião do vigário, é usar a autoridade em benefício do povo. Impor a própria opinião contra o povo e em desafio à lei, como propõe, deve ser antiautoritarismo. Inconstitucional? O vigário Altenmeyer contraria a opinião dos melhores juristas, como Celso Bastos, e o Tribunal de Justiça, que derrubou liminar contra o PAS por 21 a 2.
E é importante ver ao lado de quem se posta o vigário na campanha publicitária contra o PAS, aquela velha história de saber com quem andas. O vigário anda com o Cremesp, o Conselho Regional de Medicina.
O presidente do Cremesp foi demitido por justa causa da Prefeitura de Tremembé. Recusou-se a atender uma criança com febre, em seu plantão, porque estava dormindo e não queria se levantar. E saiu do plantão, sem ordem, para atender a um cliente particular. Recorreu aos tribunais e, por sentença judicial, foi considerado "desidioso no desempenho de suas funções". A Justiça diz que o presidente do Cremesp "tampouco se importava com os humildes seres humanos que compareciam ao atendimento no posto médico" e "nunca este preocupado com o 'ser humano', mas tão somente com a parte mercantil de sua profissão".
O povo está satisfeito, os médicos ganham mais, a prefeitura está dentro do Orçamento. O vigário Altenmeyer deve rever suas contas. E verificar melhor quem está a seu lado. E, principalmente, dizer qual o plano de saúde da Arquidiocese de São Paulo.

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