São Paulo, quinta-feira, 8 de agosto de 1996
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1.800 vivem sob risco em alojamentos

ANDRÉ LOZANO
ROGERIO WASSERMAN

ANDRÉ LOZANO; ROGERIO WASSERMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Desabrigados de São Paulo, levados para locais 'inflamáveis', convivem com ratos e falta d'água

Cerca de 1.800 pessoas vivem em situação de risco nos abrigos da Prefeitura de São Paulo.
A Folha visitou ontem os sete alojamentos provisórios que a Secretaria da Família e do Bem-Estar Social mantém para desabrigados, vindos de áreas de risco de desabamento, enchentes e incêndios.
Além dos problemas estruturais -ligações elétricas irregulares e acúmulo de materiais inflamáveis (cobertores, madeiras, botijões de gás)-, as famílias convivem com situações inadequadas de saúde pública: umidade nos cômodos, presença de ratos, acúmulo de lixo nos corredores e falta d'água.
Essas deficiências são semelhantes às que podem ter causado o incêndio que matou dez pessoas anteontem no alojamento da prefeitura na Cohab José Bonifácio, em Itaquera (zona leste).
A maioria das pessoas diz estar há muito mais tempo no abrigo -que deveria ser provisório- do que o prometido pela prefeitura.
"A prefeitura disse que a gente ficaria quatro dias no abrigo, mas já estamos há sete meses", disse Geniel Almeida Silva, 33, moradora do abrigo na Sociedade Amigos do Jardim Primavera, na Capela do Socorro (zona sul).
"Há dois meses a prefeitura suspendeu a cesta básica que recebíamos. Nesse período, parte da laje caiu em um rapaz. A água foi cortada; pedimos para os vizinhos. O lixo na lateral do abrigo nunca foi retirado, e por isso convivemos com ratos", disse Geniel.
No alojamento do Jardim Ester Iolanda, no Butantã (zona oeste), entre 25 e 30 famílias se amontoam em três galpões e dez barracos em um terreno municipal -apesar de a prefeitura contabilizar oficialmente duas famílias no local.
"Estou há cinco anos neste abrigo, que antes era um estábulo", afirma o catador de papel Gelson Araújo, 55, morador mais antigo.
Em desativação
Alguns abrigos da prefeitura, abertos em sua maioria nos períodos de chuvas, estão em processo de desativação, à espera dos desabrigados do próximo verão.
No abrigo montado no Clube Desportivo Municipal de Vila Penteado, na zona norte, apenas uma família, de sete pessoas, retirada em março de uma favela embaixo do Minhocão, no centro, vive em um salão de festas adaptado.
"No começo do ano, havia 23 famílias aqui. Agora, é só essa, que deve ir em breve. Assim vamos poder voltar a fazer festas", disse Maria Lúcia de Oliveira, 47, vizinha e responsável pelo clube.
No Tendal da Lapa, na zona oeste, que já chegou a abrigar 39 famílias no início do ano, apenas seis resistem. "Nos esqueceram. A prefeitura disse que vinha nos cadastrar para o Cingapura, mas até agora nada", afirmou Analice Mendes dos Reis, 30.

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