São Paulo, quinta-feira, 8 de agosto de 1996
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A vez das novas cidades

LUÍS NASSIF

Aos que julgam que o país estagnou, recomenda-se -entre outras providências- visitar o Triângulo Mineiro.
Desde que a Constituição de 88 deu golpe de morte no centralismo administrativo e financeiro, em várias regiões do país começa a florescer uma nova cultura social e política que está mudando a face das comunidades locais.
Como são cidades novas, não ocorreu a estratificação política que acometeu e estagnou regiões mais antigas. E a modelagem política, sendo feita nesses tempos de descentralização, tem levado a um modelo bastante equilibrado -cujo símbolo máximo são as pequenas e médias cidades do Paraná e Santa Catarina, que cultivaram o espírito comunitário justamente por estarem distantes dos centros contaminados do poder.
Esses fenômenos passam despercebidos da mídia, em geral muito concentrada no triângulo Rio-São Paulo-Brasília, núcleos que gradativamente perdem poder relativo, pelo próprio desenvolvimento de novos pólos regionais dinâmicos.
Depois do Paraná, o grande fenômeno de colonização recente consolidada no país é o Triângulo Mineiro, principalmente na área do cerrado. Não apenas pela pujança da economia, centrada no que é considerado hoje em dia o maior celeiro do mundo -o cerrado. Mas também pela maneira como as cidades vêm se organizando para enfrentar seus problemas.
Comunitário
É o caso de Patos de Minas, cidade cujo centro mais próximo é Belo Horizonte, a quase 400 km, e que explodiu nos últimos anos no rastro da colonização do cerrado.
Patos praticamente eliminou a miséria entre seus cidadãos.
Entre outras iniciativas, a cidade dispõe de projeto que atende 6.000 crianças carentes, oferecendo escola gratuita, alimentação e ensino profissional.
No início do ano, foi feito mutirão de 800 pessoas, que varreram a cidade de cabo a rabo, para não permitir que houvesse uma só criança não matriculada na rede municipal de ensino.
Há alguns anos, em parceria com o Sebrae de Minas Gerais, a cidade montou escola de empreendedores, onde 60 meninos, selecionados por critérios técnicos, aprendem a natureza dos negócios, língua estrangeira e informática, acompanhando o curso secundário convencional.
O lema do projeto é preparar Patos de Minas para competir no ano 2000 em uma economia globalizada -demonstrando de maneira objetiva como as mais distintas localidades do país vêm despertando pelo sopro da globalização.
Municipalismo
São as virtudes do municipalismo. Em algumas cidades -como Belo Horizonte, Porto Alegre e Santos- o processo é comandado pelo PT. Em outras -como em Patos de Minas e Uberaba-, por empresários que descobriram a vocação pública.
Em ambos os casos, o elemento catalisador sempre é uma liderança moderna, que consegue romper com a inércia e o individualismo característicos da cultura convencional brasileira, e reorganizar politicamente a comunidade.
No caso de Patos de Minas, a figura chave dessa modernização foi seu ex-prefeito, atual Ministro da Agricultura, Arlindo Porto -que chegou de manso no ministério, tendo uma biografia conhecida apenas em sua região.

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