São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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Órfãos de uma política madrasta

GLACI T. ZANCAN

O Paraná, em um determinado momento de sua história, decidiu criar uma rede de universidades e passou a investir na formação de seus quadros docentes. No entanto os investimentos que deveriam dar condições de trabalho foram esquecidos.
O projeto ficou pela metade, e a potencialidade dos recursos humanos formados está sendo desperdiçada.
Passam-se os governos, e seus economistas só pensam em aplicar os recursos previstos na Constituição estadual em projetos de interesse para o governo de plantão. A atual administração não é diferente das anteriores.
Recentemente, o governo encaminhou à Assembléia um projeto criando um sistema de C&T, com várias instâncias de decisão, centrado no governador e comprometido com o plano da atual gestão.
O desejável, uma agência de fomento governada pela sociedade e preocupada apenas com o planejamento a longo prazo e qualidade do trabalho a ser desenvolvido não consta das prioridades de um governo que se julga moderno.
Poucos se apercebem de que está ocorrendo uma lenta e inexorável centralização da produção científica nacional em São Paulo. Isso vem acontecendo por haver o governo federal decidido investir em bolsas de estudos e na inovação tecnológica.
O financiamento da ciência ficou para as agências estaduais, onde elas existem.
Dispondo da Fapesp, São Paulo se mantém na frente nos investimentos, tornando-se um pólo de atração para quantos desejam fazer ciência no país. Atraindo inclusive jovens docentes das instituições paranaenses.
Os governos mineiro, gaúcho e pernambucano se deram conta do problema, ativaram as fundações de amparo à pesquisa e passaram a contar com a colaboração efetiva de agências federais.
Hoje, frustrados em seus anseios de produzir conhecimentos, de colaborar na formação crítica das novas gerações, os professores universitários paranaenses se sentem roubados em suas esperanças.
São órfãos, abandonados de um lado pelas agências federais que só premiam os mais aquinhoados e de outro por um governo estadual que não lhes dá suporte para competir pelos parcos recursos federais disponíveis.
A grande dúvida é saber até quando será possível a sobrevivência desses idealistas em um meio hostil que marginaliza os que querem ter apenas o direito de trabalhar e contribuir para o estabelecimento de uma sociedade crítica, independente e soberana.

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