São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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Tiririca é racista ou um comediante de quinta?

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Vamos e venhamos, esse caso da censura à música do Tiririca foi longe demais. Que eu saiba, a expressão "nega", assim como "encher o saco" ou "pentelho", há muito deixou de ser usada no contexto original. "Carcamano" também. Usada para identificar meus pares, a expressão vem de "carcar a mão" e era aplicada aos comerciantes italianos do começo do século, que supostamente "carcavam" a mão na balança, para roubar no peso.
Pergunte se eu ligo. Claro, me incomoda. Inclusive porque não sou boa comerciante. Mas se algum troglô fizesse uma música falando da carcamana fedida, não me passaria pela cabeça ocupar o tempo da Justiça, que é para lá de sobrecarregada, para chorar pitanga.
Censura é medida barra-pesada, e, depois do período autoritário, muito me admira que certas pessoas tenham esquecido o que significa impor aos outros costumes e gostos. Lembra quando o regime militar proibiu o balé Bolshoi?
Ver ou não racismo na letra de uma música é questão subjetiva e íntima, que não pede interferência da Justiça.
Se você, ó leitor que goza dos privilégios de viver em uma democracia, opta por comprar o CD do Tiririca ou dar aos pimpolhos o disco dos Mamonas Assassinas no Natal, problema seu. Sinto muito por seu baixo nível e pela crueza de seu humor, mas aplaudo a liberdade de escolha.
Vários leitores mandaram correspondência comentando o caso Tiririca. Vejamos o que alguns deles dizem. Guilherme Ortolan, de Ribeirão Preto, não sabe se acha o Tiririca preconceituoso. "Mas Gabriel, o Pensador, é preconceituoso, os argentinos são preconceituosos e eu também sou: volta pra cozinha, mulher!" Outro, sem coragem de assinar o nome, envia e-mail dizendo: "Gente como você nunca vai ter a mínima idéia do que uma criança negra passa na escola. (...) Censura é uma coisa, crime de racismo é outra". Fernando Peres diz o seguinte: "Os negros deveriam se preocupar com coisas mais importantes do que a musiquinha horrível do Tiririca, que, no meu entender, não teve vontade de agredir ninguém". A estudante e leitora assídua Léa Elisa Silingowschi Calil acha que "a música vai ser liberada e todo esse melindre só vai render lucros ao Tiririca". Dênis, do Rio, vai mais longe: "Foi lance promocional da Sony".

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