São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo argentino reprime os grevistas

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

A greve geral realizada ontem na Argentina foi marcada pelo alto nível de adesão e pela repressão policial contra os manifestantes. A CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) estimou em 90% o índice de participação.
Cerca de 50 pessoas foram detidas em Buenos Aires, capital do país. Adolfo Perez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, denunciou ter sido agredido por policiais, juntamente com cinco integrantes da Associação das Mães da Praça de Maio.
Os acessos à praça -onde se localiza a sede do governo argentino- foram cercados por centenas de policiais. Quando tentaram entrar no local para realizar o tradicional protesto das quintas-feiras, as "madres" foram recebidas com jatos de água e empurrões.
A polícia encontrou na praça um explosivo de baixa potência, supostamente jogado pelos manifestantes. A bomba foi detonada por uma equipe especializada.
Incidentes
"É um estado de sítio não declarado. Não há antecedentes para este tipo de situação", disse o líder do Movimento dos Trabalhadores Argentinos (MTA), Juan Manuel Palácios, que se envolveu em um tumulto em frente ao Congresso.
A confusão começou no final da manhã, quando cerca de 200 manifestantes tentaram preparar e distribuir alimentos em uma praça. A polícia dissolveu a manifestação com jatos de água e prendeu cerca de 30 pessoas.
Incidentes semelhantes foram registrados em outras três praças. No final da tarde, quase todos os detidos haviam sido liberados.
O secretário de Segurança Interior, Andrés Antonietti, disse que a polícia reprimiu "porque nenhuma marcha ou concentração foi autorizada".
"Um governo cujo programa prejudica milhões de trabalhadores e que não permite manifestações é totalmente autoritário", afirmou o deputado Carlos Chacho Álvarez, da coalizão Frepaso (Frente País Solidário), que pediu a renúncia do ministro do Interior, Carlos Corach.
Desafio
O índice de adesão superou as expectativas dos organizadores. "Este é um dia histórico para os trabalhadores argentinos", disse o presidente da CGT, Gerardo Martínez, no final da tarde.
Martínez convocou o governo para negociar a anulação do decreto que reduziu ou eliminou o pagamento do salário-família para quem ganha mais de US$ 500.
O sindicalista não descartou a hipótese de promover outra greve caso o governo não mude a atual política econômica. "Não aceitamos este modelo capitalista, selvagem, monetarista e tecnocrático."
Na pauta de reivindicações da central estão pontos como a reativação da economia, combate ao desemprego, restrição a importações e concessão de crédito para pequenas e médias empresas.
Em Buenos Aires, o sucesso da paralisação foi garantido pela participação dos motoristas de ônibus. No metrô, a frequência dos trens foi reduzida à metade. A maior parte dos bancos permaneceu fechada, enquanto o comércio funcionou parcialmente.
Segundo os sindicalistas, a adesão foi ainda maior no interior do país, em cidades importantes como Córdoba, Mendoza e Rosário. Pela manhã, a rádio Mitre, de Buenos Aires, informou que a UIA (União Industrial Argentina) estimava a paralisação em 70%. A assessoria de imprensa da UIA não confirmou a estimativa à Folha.

Texto Anterior: CEF vai convocar 130 mil
Próximo Texto: Foi persuasão, diz ministro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.