São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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O mercado e a informação

LUÍS NASSIF

Nos últimos dias, dois tipos de especulações interferiram no mercado. Na semana passada, especulações sobre supostas mudanças na política cambial Argentina. Agora, especulações sobre resultados da Telebrás.
Segundo rumores de mercado, ambos os movimentos partindo de uma mesma instituição -que se propõe a administrar recursos próprios e de terceiros.
Como se abortam esses movimentos?
O primeiro fator de coerção tem de ser dos próprios investidores. Se uma instituição manipula avaliações de empresas ao sabor do próximo vencimento do mercado de opções, e se administra recursos de terceiros, não deveria merecer a confiança de sua clientela.
Mas da parte das entidades reguladoras há que se ter comportamento mais inibidor dessas práticas.
Na semana passada, duas pequenas mudanças nas áreas monetária e cambial serviram de álibi para a deflagração desse jogo. Criticado pela coluna por ter empreendido as mudanças, em plena troca do Ministro da Fazenda da Argentina, o diretor da área internacional do Banco Central, Gustavo Franco, alerta para a falta de regulação dos derivativos -mercados onde se negociam papéis que são derivados de ativos reais.
Esses mercados permitem grandes alavancagens. Com o mesmo cacife, podem ser feitas apostas muito maiores do que nos mercados à vista.
Franco aponta as seguintes brechas que permitem manipulações nesses mercados:
1) As movimentações no mercado futuro acabam afetando o mercado à vista, via arbitragem. Ou seja, a partir do mercado futuro, o investidor sabe até quanto pode pagar pela compra à vista, mantendo seu lucro.
2) Atualmente, instituições podem assumir até 25% do número de contratos de uma série. Além de poderem interferir por meio de carteira de terceiros, sob sua administração.
Entende Franco que mesmo posições cobertas (isto é, garantidas) podem ser desestabilizadoras. A cobertura garante a solvência da própria instituição. Mas não resguarda outras instituições dessas práticas desestabilizadoras.
Com alta alavancagem, pouca regulação e muita criatividade, diz Franco, há amplo espaço para operações perigosas. Mas como regulamentar?
Entende Franco que o caminho não passa pela identificação de centrais de boato, que é função da polícia. Mas desenvolver instituições que tornem o mercado menos vulnerável a tais manobras.
Esses temas precisam ser discutidos com maturidade e serenidade, diz Franco.

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