São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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Estresse longo pode atrofiar o cérebro

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O estresse prolongado pode ter um grave efeito até agora desconhecido: atrofiar o cérebro.
Os cientistas já sabiam que isso acontecia em ratos e macacos. Mas agora vários estudos estão demonstrando o efeito em seres humanos, segundo artigo escrito por Robert Sapolsky, da Universidade Stanford (EUA), publicado hoje na revista "Science".
Sapolsky fez uma revisão da literatura científica recente sobre o tema. E verificou que ela tende a demonstrar que o estresse danifica células do cérebro, como os vitais neurônios -a unidade celular básica do sistema nervoso.
Isso aconteceria porque, durante o estresse, o organismo produz uma grande quantidade dos hormônios chamados glucocorticóides (os "GCs"). Um deles é a conhecida adrenalina, que causa o aumento do batimento cardíaco, aumentando a energia do corpo e a resistência ao cansaço.
Depressão
Um estudo feito por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, publicado na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", mostrou que metade de um grupo de pacientes sofrendo de depressão produzia níveis muito altos desses glucocorticóides.
Também se notou que os hipocampos -regiões do cérebro essenciais para a memória- dos pacientes deprimidos perdiam em média 12% (o direito) e 15% (o esquerdo) do volume. E o tamanho do dano era correspondente à duração da depressão.
Outros estudos mostraram problemas parecidos, como uma investigação sobre o impacto do tempo passado em combate por veteranos americanos da Guerra do Vietnã, e outra sobre pessoas que tiveram abuso sexual na infância.
Um estudo que será publicado na revista "Biological Psychiatry" mostrou que os veteranos perderam 22% (o direito) e 26% do volume (o esquerdo) do hipocampo.
Também se notou a atrofia dos hipocampos no caso de uma superprodução dos GCs causada por um tumor chamado síndrome de Cushing. Resta saber o quanto dessa atrofia é permanente.
No caso da síndrome, a atrofia é revertida depois de corrigida a anomalia na produção de hormônios. Mas, no caso dos veteranos de guerra e dos deprimidos, a atrofia aconteceu meses, ou mesmo anos, depois do combate ou do período depressivo.
Ainda há algumas dúvidas portanto sobre o correto papel desses hormônios na atrofia. Mas, como escreveu Sapolsky, "se a literatura mostrar que o estresse prolongado ou excesso de GC pode danificar o hipocampo humano, as implicações são consideráveis".

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