São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
Texto Anterior | Índice

UFSCar abre a Sala Florestan Fernandes

DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS (SP)

"Dificuldade de análise: em toda ciência, o difícil é o começo."
A anotação faz parte do acervo do sociólogo Florestan Fernandes, aberto ontem na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos, 244 km a noroeste de São Paulo).
Escrito em uma pequena folha de papel amarelada pelo tempo, o comentário diz respeito ao primeiro volume de "O Capital", de Karl Marx, considerado um clássico da economia política.
Textos como esse podem ser encontrados em grande parte dos 12.000 livros e 8.000 documentos (separatas, teses, artigos de jornais, monografias) que compõem a Sala Florestan Fernandes, da Biblioteca Comunitária da UFSCar.
Hoje faz um ano da morte do sociólogo e ativista de esquerda. Ontem, a vida e a obra de Florestan foram recordadas por familiares (participaram a viúva, Myrian Rodrigues Fernandes, e os seis filhos), amigos e colegas de partido (PT) e do meio acadêmico.
"Penso que, para todos nós, da família, a pessoa de meu pai é inseparável do seu escritório e de sua biblioteca", disse Heloísa Rodrigues Fernandes, socióloga da USP (Universidade de São Paulo), onde Florestan se formou e lecionou.
Foi desse escritório e dessa biblioteca que a família se separou oficialmente ontem. O acervo foi vendido por R$ 160 mil à biblioteca e pode ser consultado por qualquer um que se cadastre.
"Agora, tenho dois pontos de referência de meu pai. Aqui (UFSCar) e o mar de Juqueí (litoral norte de São Paulo), onde jogamos suas cinzas", disse o jornalista Florestan Fernandes Júnior.
Além do acervo original, pessoas e instituições que têm fotos ou textos sobre Florestan Fernandes estão fazendo doações para a sala.
"A Folha fez uma coisa maravilhosa. Doou fotos e quatro volumes encadernados com tudo o que meu pai escreveu no jornal desde 43", disse o filho. Florestan escreveu cerca de 500 artigos na Folha, onde assinou uma coluna semanal de junho de 89 até sua morte.
"Ficamos impressionados com a estrutura da Biblioteca Comunitária. É uma biblioteca aberta. Atendia a tudo que a gente estava querendo", conta Florestan Jr.
"O que é triste é que essa história da morte dele ainda não foi esclarecida nem se apontou qualquer culpado", criticou. Florestan morreu durante sessão de hemodiálise, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Biblioteca Comunitária da UFSCar - Campus Norte da UFSCar, rodovia Washington Luís, km 235, CEP 13565-905, tel. (016) 274-8133, fax (016) 274-8473

Texto Anterior: Econômico é liquidado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.