São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996 |
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Planet Hemp testa a Justiça de São Paulo
MARISA ADÁN GIL
O Planet Hemp (Planeta Maconha) é a banda que mais sente na pele a ameaça da volta da Censura. A banda sempre se manifestou abertamente a favor da legalização da maconha. Recentemente, teve dificuldades com a Justiça. Os problemas começaram em abril de 1995, quando o clipe do hit "Legalize Já" recebeu do Ministério da Justiça uma classificação que só permitia sua exibição após as 23h. Mais tarde, em junho, o juiz da 3 Vara Criminal de Goiânia expediu um mandado de busca e apreensão dos discos da banda. Os episódios mais sérios aconteceram em julho deste ano. No dia 18, em Vitória, Roney Gomes, promotor dos shows do grupo na cidade, e Rogério Tristão, candidato a vereador, foram detidos. No dia 28, um show em Salvador foi cancelado, devido a uma liminar expedida por juíza da 1ª Vara Privativa de Tóxicos da Bahia. Agora, a banda de rock/rap formada por Marcelo D2 (vocais), Benegão (vocais), Rafael (guitarra), Formiga (baixo) e Bacalhau (bateria) não sabe o que esperar. Em entrevista exclusiva à Folha, Benegão fala sobre os problemas recentes e a possível volta da censura. * Folha - Como a banda reagiu aos episódios em Salvador e Vitória? Benegão - É uma merda, parece que estamos na época da ditadura. Fico pensando o que pode levar o ser humano a fazer essas paradas. Toda essa celeuma por causa de um punhadinho de mato. Folha - Vocês imaginavam que teriam esse tipo de problemas? Benegão - No começo, quando gravamos o disco, achamos que ia dar problema e não deu. Mas, quanto mais aparecemos, piora. Folha - Como foi o incidente em Vitória? Benegão - No dia do show cancelado, o promotor foi protestar na porta. Chegou a polícia e levou outro que não tinha nada a ver, candidato a vereador. Folha - E em Salvador? Benegão - Na Bahia, só ficamos sabendo depois. No primeiro show, prenderam 62 caras, foi o maior terror, nego tomou porrada de polícia. No segundo show, saímos meio fugidos, queriam prender a gente. Folha - Vocês estão preocupados com o show em São Paulo? Benegão - Não, estamos aí para o que der e vier. Não dá pra deixar de falar o que a gente fala. Folha - O que vocês defendem exatamente? Benegão - Defendemos que a maconha seja legalizada, como uma forma de diminuir o poder do tráfico. E que o governo tome conta das coisas, faça campanhas explicativas, não dê para uma multinacional qualquer ficar fazendo propaganda. É ridículo estar fumando e tomar um pau da polícia. Folha - Você acha a proposta viável? Benegão - Só daqui a anos. O preconceito é muito ainda, mas já está bem melhor. Achavam que maconheiro era assassino, tinha que ser preso, era a mesma coisa que traficante. Folha - Você tem acompanhado a polêmica em torno de Tiririca e do filme "Trainspotting"? Benegão - Dá muita tristeza, parece que estamos regredindo. Você já tem que ralar para poder comer, ainda não ter direito nem de falar o que acha? Agora, tem um monte de neguinho que vai no show e não fuma maconha. Folha - No grupo, todos fumam? Benegão - Todo mundo. Eu comecei aos 13. Gosto de fumar como gosto de beber cerveja. Folha - Em junho do ano passado vocês fumaram maconha no palco do Blen Blen Club. Benegão - Foi de raiva, tinha um segurança enchendo o saco. Mas é meio besta. Não precisa dar essa bandeira toda. Show: Planet Hemp Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, tels. 252-6255 e 864-7333) Quando: 13 de agosto, a partir das 21h Quanto: R$ 20 a R$ 40 Texto Anterior: Jonny Quest volta adolescente Próximo Texto: CRONOLOGIA Índice |
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