São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para economista, renda não vai crescer

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Vindo ao Brasil pelo convênio de intercâmbio cultural entre o Instituto de Desenvolvimento Econômico da Universidade de Harvard e o grupo de estudos sobre o crescimento, que está sendo organizado na Faculdade de Economia e Administração da USP, para ministrar aulas sobre as novas teorias que explicam o crescimento econômico, o professor Robert Barro envolveu-se em uma boa polêmica.
Duas de suas afirmações chamaram a atenção. Uma, foi dizer que, apesar das boas intenções do Plano Real, ainda não se fez um esforço sério de ajuste fiscal. Os dados conhecidos sobre o déficit do governo em 1995 e os dos primeiros cinco meses de 1996 dão razão a Barro.
Sua outra afirmação polêmica é a previsão de que a renda real "per capita" do país não deve crescer até o ano 2000. Nesse caso, confesso que fiquei surpreso e procurei saber a base dessa projeção.
Esse resultado é o resultado previsto com o uso de um método que toma por base a evolução esperada de alguns indicadores que ele identificou, tanto em estudos teóricos quanto empíricos, como sendo os fatores fundamentais que determinam o crescimento no longo prazo. Entre esses elementos, estão indicadores sobre o capital humano (situação educacional), consistência da política econômica, previsão de inflação, eficiência da gestão pública e atmosfera que estimule o florescimento do esforço empreendedor, brotando da base da sociedade.
Minhas próprias projeções, em parte intuitivas, em parte analíticas, indicam um potencial de crescimento relativamente bom para os próximos dez anos. Mas, em vez de polemizar se as previsões de Barro são certas ou não, o melhor a fazer é prestar atenção no alerta que nos é oferecido.
O próprio Barro, nos debates que tivemos, disse desejar que minhas previsões se verifiquem, mas isso irá depender de um esforço maior do Brasil para melhorar sua situação educacional (ensino de primeiro e segundo graus), dar consistência e previsibilidade à política econômica, observar regras de proteção aos direitos autorais e abertura da economia, e estimular o espírito empreendedor. Isso, mais uma forte melhoria na qualidade da administração pública e muito mais privatização.
Barro, que confessa ter sido um pouco esquerdista na adolescência, é totalmente cético, no presente, quanto a governos inchados e em pseudo-políticas públicas a favor dos pobres. Talvez ele esteja errado, mas suas observações não têm nada de levianas.

Texto Anterior: Barro sugere Cavallo no lugar de Malan
Próximo Texto: As crises bancárias
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.