São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Médicos são processados por 134 casais

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há três anos, uma consulta em clínica de reprodução nos Estados Unidos demorava 50 minutos, em média. Hoje, toma duas horas.
O motivo principal da mudança chama-se Ricardo Asch, um médico argentino radicado na Califórnia. É acusado por 134 casais de ter trocado óvulos em tratamentos.
A suspeita é de que Asch, quando encontrava uma mulher com óvulos potencialmente difíceis de serem fertilizados, usava óvulos de outra, melhores. O sucesso no tratamento era maior -só que o filho não tinha características da mãe.
Não é o primeiro caso do gênero nos EUA. O ginecologista Cecil Jacobsen, que tinha um banco de sêmen, usou seu espermatozóide para inseminar 70 mulheres.
Tintim por tintim
Por causa de Asch, os médicos da Califórnia são obrigados a gastar 20 minutos explicando as chances de gravidez e seus índices de sucesso e outros 20 contando como é o sistema de controle de sua clínica, qual é a tecnologia que usa, como funciona etc. Se concordar em fazer o tratamento, o casal assina 12 formulários.
O Congresso dos EUA, as assembléias, o serviço de vigilância sanitária e entidades de defesa do consumidor querem leis mais rígidas para controlar as clínicas.
"É um terror", resume o médico brasileiro Paulo Cesar Serafini, dono de uma das maiores clínicas de fertilização da Califórnia.
A reação foi proporcional à fama de Asch: ele era um dos mais conhecidos médicos de reprodução assistida do mundo, tinha dezenas de artigos publicados e fez tudo numa universidade pública, a da Califórnia, em Irvine.
Asch já esteve no Brasil, nos anos 80, dando cursos para a equipe de Milton Nakamura. "Acho que fizeram isso com Asch por causa de inveja", diz seu colega brasileiro.
Para dar um toque mais mundano à história, Asch circulava com uma Ferrari vermelha em Irvine e tinha cavalos no jóquei.
Cobrava caro pelos tratamentos, apesar de usar as instalações de uma universidade pública. Auditoria feita no ano passado descobriu que ele embolsou pagamentos em dinheiro vivo da ordem de US$ 1 milhão.
As trocas ocorreram até 1994, quando um casal notou que o filho não se parecia com a mãe. O escândalo virou uma bola de neve. Pipocavam denúncias quase todo dia.
Asch fugiu para a Cidade do México, onde mantém uma clínica. Jose Balmaceda, um dos seus assistentes, foi para o Chile.
Outro assistente, Sergio Stone, é o único que vive nos EUA. Carrega um chip no pulso -é com ele que a polícia segue seus passos.
(MCC)

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