São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Opiniões de respeito

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

O ministro Pedro Malan indignou-se com as opiniões emitidas pelo economista americano Robert Barro. Sem dispor de informações adequadas sobre o andamento da política econômica brasileira, Barro fez apenas o que vem fazendo outras celebridades do mundo acadêmico e financeiro americano: abusou da leviandade e arriscou uma crítica ao programa de estabilização.
As observações do intruso não avançaram, aliás, nem um milímetro em relação aos teores dos reparos feitos à execução do Plano Real pelos analistas da terra, essa brava gente brasileira. Não parece ser, entretanto, motivo para hastear a bandeira nacional e botar a mão no peito.
O ministro há de concordar que, até este momento, o futuro do plano depende muito das avaliações -sujeitas a bruscas alterações- dos mercados financeiros "globalizados". Sendo assim, ainda que as conclusões sejam exatamente as mesmas, são grandes as diferenças de cotação no mercado de opiniões, entre o palpite nacional e o estrangeiro.
Seja como for, a verdade é que os mercados financeiros hoje em dia reagem com maior elasticidade às perspectivas de mudanças na política econômica ou antecipam rapidamente, por meio de variações nos juros e no câmbio, alterações em variáveis ou relações consideradas fundamentais.
Torna-se, portanto, cada vez mais decisivas as opiniões "respeitadas" acerca do comportamento do déficit em transações correntes, as interpretações sobre a situação financeira do governo (déficit e dívida pública) ou avaliações sobre a trajetória dos juros americanos e seus efeitos sobre o financiamento dos mercados emergentes.
Estas variáveis, críticas para a formação das expectativas, deverão apresentar uma evolução problemática ao longo dos próximos meses. As esperanças de muitos analistas quanto ao desempenho superavitário da balança comercial vem sendo contraditada pelo aparecimento de déficits num período sazonalmente favorável.
As projeções mais moderadas apostam num déficit gregoriano superior a US$ 2 bilhões.
Mais complicada será a evolução das contas públicas. Particularmente delicada neste momento é a questão relativa à forma como é percebida a relação entre déficit, dívida e taxas de juros. As operações de esterilização dos efeitos monetários do crescimento das reservas e as taxas de juros elevadas foram responsáveis por boa parte do crescimento da dívida pública interna.
O governo vem promovendo, nos últimos meses, uma redução progressiva e sistemática das taxas básicas de juros, e isto tem reduzido o peso dos juros como fator de expansão do endividamento.
No entanto, são cada vez mais intensas as interpretações que apontam para uma inconsistência entre um estoque de dívida interna em ampliação e continuidade na política de redução dos juros.
Se esta convicção ainda embrionária se consolidar, os agentes podem iniciar um movimento instabilizador de mudança de posições entre moeda estrangeira e moeda nacional.
A resposta convencional é que as reservas aí estão para acalmar essas alterações no estado das expectativas. No entanto, a possibilidade de um ataque especulativo torna-se mais inquietante à medida que se tornar crescente a desproporção entre os ativos líquidos domésticos e as reservas.
É comum entre os analistas a preocupação com a "fração das reservas formada pela entrada de capitais especulativos". Mas numa eventual crise de confiança, o que importa é o poder de fogo dos detentores da riqueza líquida.

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