São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Institutos admitem estudar índice único

DA REPORTAGEM LOCAL

Com a crise no emprego, se torna necessária a convergência de taxas e metodologias que medem o desemprego no país.
A opinião foi defendida pelo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, André Urani, durante o debate "Quadro do Desemprego no Brasil", promovido no último dia 5 pela Folha.
"Não dá para divergir tanto sobre as taxas. Precisamos de uma pesquisa nacional mais coerente, exaustiva e abrangente", afirmou.
Em junho, por exemplo, há taxas de desemprego tão distintas como 7,85% e 16,2% para a região metropolitana de São Paulo.
A primeira, de 7,85%, foi apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), na Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
A segunda, de 16,2%, foi levantada pelo Dieese -órgão de assessoria econômica dos sindicatos- em convênio com a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) em sua Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED).
Se para São Paulo há várias taxas de desemprego, em Campinas (interior de São Paulo), Belém, ou Goiânia, só para citar três exemplos, não existem pesquisas de emprego, reclamou Urani.
O próprio IBGE, disse ele, tem taxas distintas entre seus dois levantamentos -a Pesquisa por Amostra Domiciliar apurou o desemprego em 10,4% da população economicamente ativa em setembro de 93, último dado disponível, e a PME, em 5,6%. "Gostaria de saber o porquê da diferença."
A coordenadora da equipe de análise do Departamento de Emprego do IBGE, Shyrlene Ramos de Souza, presente ao debate, disse que o próprio instituto "está estudando" a razão da diferença entre as duas taxas apuradas pelos seus próprios pesquisadores.
Ela disse estar "receptiva" à proposta de Urani, de discussão das metodologias entre o IBGE, Fundação Seade e Dieese, para tentar uma convergência entre as taxas e ampliação da abrangência das pesquisas. "Mas eu acho difícil chegar e um consenso", afirmou ela.
O diretor-executivo da Fundação Seade, Pedro Paulo Martoni, reclamou que não foi convidado, assim como o Dieese, a integrar o grupo do Ministério do Trabalho que discute as estatísticas sobre emprego e desemprego no país.
Ele disse que a existência de mais de uma estatística sobre emprego "enriquece a discussão".
Segundo ele, é necessário ter "coragem" para identificar como desempregado quem está fazendo apenas um "bico" e procurando emprego, como faz a pesquisa da Fundação Seade e do Dieese.
Pela PED, esses indivíduos estão em "desemprego oculto pelo trabalho precário".
Para Shyrlene Ramos de Souza, a caracterização é "insuficiente" visto que a "composição do mercado de trabalho de hoje requer análise da subocupação."
O professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, Claudio Salvadori Dedecca, lembrou que o crescimento no número de inativos no país, segundo a PME do IBGE, se deve principalmente à caracterização de "inativos" na pesquisa.
São considerados inativos, pela PME, quem estava sem trabalho e não procurou emprego na última semana, embora tenha procurado emprego nos últimos 30 dias ou últimos 12 meses.
Pela PED, quem estava sem trabalho e procurou emprego nos últimos 30 dias está em "desemprego aberto" e quem procurou nos últimos 12 meses está em "desemprego oculto pelo desalento".

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