São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Empresas vêem 96 como ano da Intranet

ENRIQUE JURADO
DO "EL PAÍS"

A superinfovia entrou em nossas casas sem nem mesmo pedir licença. Mas será que interessa às empresas incorporar a Internet ou a Intranet a suas organizações?
A resposta é categórica: sim. Isso apesar de, segundo os especialistas, poucos dirigentes de empresas saberem para que servem esses dois novos instrumentos.
Se o ano passado foi o ano da Internet, este é o da Intranet, ou intra-rede. Na realidade, elas são a mesma coisa, só que a intra-rede é um instrumento aplicado ao âmbito interno de uma empresa.
"As empresas criam uma fronteira de segurança, conhecida também como 'porta antiincêndio', que impede que qualquer navegador de fora obtenha acesso às informações que a empresa restringiu para seu uso exclusivo."
A explicação é de Alberto Andreu, professor de comportamento organizacional e comunicação do Instituto da Empresa e diretor de uma instituição bancária.
Para José Manuel Luengo, gerente da KPMG Peat Marwick, "a utilização comercial da superinfovia está possibilitando uma redução significativa dos custos de algumas atividades tradicionais (publicações periódicas e atualizações).
Também, diz, "há uma aproximação maior com o cliente, proporcionando mais informações sem aumento sensível de custos".
Três fases
Segundo o estudo realizado pela KPMG no Reino Unido, há três etapas genéricas pelas quais as organizações evoluem até conseguir oferecer um serviço pela rede.
Em primeiro lugar, vem a fase de pesquisa e desenvolvimento. Ela se caracteriza pelo estabelecimento de uma presença passiva na rede.
Consiste em dar informações (sobre a organização, produtos ou notícias que possam interessar ao cliente) e receber sugestões. As iniciativas geralmente são das áreas de marketing e informática.
Os projetos realizados durante essa etapa têm forte componente pessoal na empresa, sendo movidos por equipes muito reduzidas. Sua repercussão dentro da empresa costuma ser pequena.
Nessa fase um isolamento do projeto dentro da empresa, sem reconhecimento ou apoio, pode implicar riscos para a organização: enfraquecimento ou confusão com relação à marca da empresa.
A segunda etapa é a do protótipo. Normalmente, ao completar a etapa anterior de presença básica na Internet por intermédio da Web, as organizações ficam surpresas com o retorno, sobretudo pelo número de acessos ao servidor.
Os projetos dessa etapa são caracterizados pela composição multifuncional das equipes, pelo caráter estruturado da informação contida no servidor da Web e pelo controle de qualidade exercido, além da ausência de complexidade dos produtos ou serviços comerciais oferecidos pela rede.
Mas a etapa de maior projeção, diz o estudo da KPMG, é a do serviço: vender serviços por meio da superinfovia, ou seja, compra por catálogos, serviços bancários etc.
"Essa etapa realmente representa o futuro para a maioria das organizações", diz Luengo.
Muitas das empresas estão apenas esperando que aumente o número de usuários para embarcarem nessa nova fase.
"A mudança fundamental consiste na ruptura com os hábitos usuais de trabalho", assinala o gerente da KPMG.
Revolução
"Do ponto de vista teórico, o acesso universal a qualquer informação desde o posto de trabalho supõe uma mudança muito importante."
Para os defensores ardorosos da superinfovia, estamos diante de uma grande revolução. Entre eles, é claro, figura um de seus fundadores: Christian Huitema.
"A Internet não é um meio de comunicação de sentido único, como o rádio ou a TV. Seu aspecto mais revolucionário é o fato de capacitar qualquer pessoa a ser ao mesmo tempo consumidora e fonte de informação", diz Huitema.
As superinfovias da informação (Internet, intra-redes e outras), aplicadas no âmbito das empresas, constituem meios que facilitam alguns aspectos do trabalho cotidiano, mas não são a "panacéia universal" que alguns entusiastas afirmam que elas são.
Será que um canal tão avançado de comunicação pode repercutir negativamente na comunicação interna das empresas?
Para Alberto Andreu, a resposta é sim: "Embora possa parecer paradoxal, acredito que sim, à medida que existe o risco de se atribuir mais importância ao meio do que ao fim -comunicação, acesso às informações e, sobretudo, contraste e discussão das informações antes da tomada de decisões".
Alguns dos riscos apontados por Andreu são: isolamento e afastamento das relações pessoais, ter acesso às informações por meio de um debate de idéias e privilegiar a individualidade em vez do trabalho de equipe.
A implantação maciça de superinfovias como substituto de outros tipos de ações de comunicação pode, de acordo o professor, colocar em risco o valor do trabalho em equipe.
Andreu dá um exemplo: os resultados dos círculos de qualidade (equipes de pessoas dedicadas à introdução de melhorias em determinado processo).

Tradução de Clara Allain.

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