São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Resultado frustrante

RICARDO YAZBEK

No que se transformou, na verdade, o programa de Carta de Crédito, lançado pela CEF (Caixa Econômica Federal) no ano passado?
Segundo dados disponíveis até maio passado, cerca de 814 mil pessoas se candidataram ao tão sonhado financiamento para a aquisição da casa própria.
Mas, oito meses depois, as informações indicam resultado frustrante: somente 0,33% do total de interessados alcançaram, concretamente, o sonho da moradia.
E, no universo candidato, já no mês de junho, entre 6.000 e 8.000 contratos encontravam-se assinados -com prazo de validade de seis meses para retirada dos recursos-, isso no âmbito das 50 mil cartas de crédito concedidas pelo Pró-Cred, conforme divulgado pelo diretor de Habitação da CEF.
Agora, temos a reabertura do Pró-Cred, ao lado dos outros "Prós" que a CEF, na louvável iniciativa de retomar financiamentos, coloca em operação. Inclusive, crédito para a classe média, com recursos externos, para os quais ainda não foi definida a forma de correção.
Louvável iniciativa. Todavia, sentimos que se apresenta insuficiente e inadequada para as realidades dos grandes centros urbanos, onde o valor do terreno -determinante no preço do imóvel- consome boa parcela do crédito concedido ao comprador.
Ainda que reconheçamos o empenho da CEF e, finalmente, a disposição governamental em contemplar a produção e a aquisição de imóveis, fica aquela sensação do esforço inócuo, no que se refere à população das grandes cidades.
Cumpre salientar que tais considerações não se limitam aos empresários do setor imobiliário.
São idênticas no meio social e também no Congresso Nacional, conforme pudemos constatar por ocasião de simpósio realizado em 19 de junho em Brasília, pela Frente Parlamentar de Habitação e Desenvolvimento Urbano.
Vários deputados revelaram decepção com os programas da CEF e, especialmente, com a ação governamental no tocante à moradia. O presidente da CEF, Sérgio Cutolo, estava no evento, ouviu as críticas, mas atribuiu a morosidade à "burocracia".
Ora, adiantam recursos se a burocracia impede que a sociedade tenha acesso a eles?
No meio de tantas dúvidas, a indústria imobiliária continua tentando resistir.
Permanece dedicada à racionalização de seus empreendimentos, empenhada em dinamizar o mercado pelas próprias vias, desenvolvendo, entre outras iniciativas importantes, a securitização de recebíveis e buscando parcerias com os fundos de pensão.
Porém, é preciso muito mais. São necessárias definições e uma sinalização concreta do governo quanto à política habitacional que pretende desenvolver.
Um fato, apenas, nos dá mais tranquilidade: agora, a luta por um verdadeiro Plano Nacional da Habitação conta com um importante aliado, a Frente Parlamentar de Habitação, que, como representante do povo, não se omitirá na tarefa de apoio ao Executivo para o alcance dessa meta.

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