São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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"E Continua... Tudo Bem" é teatro do cansaço

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Por sorte, "E Continua... Tudo Bem", quarta-feira, em pré-estréia para o patrocinador, começou uma hora atrasada.
O gravador com toda a sonoplastia quebrou pouco antes do início do espetáculo e Tarcísio Meira e Glória Menezes foram obrigados a entreter a platéia durante quase uma hora, até que chegasse outro aparelho.
E não há coisa melhor do que a atriz lembrando a primeira vez que pisou no palco, aquele mesmo palco do teatro Maria Della Costa, em "As Feiticeiras de Salem", de Arthur Miller, com direção de Antunes Filho... e levou um escorregão depois de dar dois passos.
Estatelou-se sobre os espectadores da primeira fila, levantou-se às pressas e fez a entrada outra vez, como se nada tivesse acontecido.
Também não há nada melhor, ou mais romântico, vá lá, do que Tarcísio Meira recordando um ensaio de "Plantão 21", dirigido por Ademar Guerra, quando viu Glória Menezes pela primeira vez, sem que ela desse a menor atenção ao jovem galã à sua frente.
Não havia nada melhor, naquela apresentação de "E Continua... Tudo Bem", do que as memórias francas e pessoais, contadas com graça, sem preparação, pelo casal -e que eles prometeram, ao final, transformar em novo espetáculo, confessional.
Melhor, bem melhor, certamente, do que a própria "E Continua... Tudo Bem".
Sequência
A peça do americano Bernard Slade, que dá sequência a "Tudo Bem no Ano que Vem", também uma montagem de sucesso do casal nos anos 70, não chega nem ao humor nem ao drama do original.
É uma comédia comercial, mas com um autor longe de poder comparar-se à competência de um Neil Simon ou a sua própria carpintaria de duas décadas atrás.
"Tudo Bem no Ano que Vem", a primeira peça, contava a história de um casal de amantes que se encontra todo ano, no mesmo local, durante 26 anos.
O filme baseado na peça, com o título original "Same Time, Next Year", é uma boa comédia, também produzida nos anos 70, com Ellen Burstyn e Alan Alda nos dois papéis.
Peça cansada
"E Continua... Tudo Bem" é toda uma peça cansada. Cansada na trama, que repete os esquetes anuais, em que se confrontam as mudanças de vida de ambos, agora repetitivamente.
Cansada na direção de Marco Nanini e no elenco, que pouco arriscam -ou pouco permite o texto, de risco emocional. No mais das vezes, quase o tempo todo na verdade, o que se tem em cena são caricaturas.
O caso exemplar e estranhamente também o mais engraçado é a versão de Tarcísio Meira para um cinquentão que se quer jovem e resulta em algo muito próximo dos tipos cômicos de Chico Anysio.
E o texto está longe da comédia verbal da primeira peça. A prova é que as melhores frases, as melhores "one-liners" são clichês como "estou numa idade em que os jornais se abrem naturalmente nos obituários".
A primeira peça, além da chamada carpintaria teatral, o texto escrito com competência, tinha a qualidade de revelar todo um momento da vida americana, os anos 50.
"E Continua... Tudo Bem", agora, não almeja nada parecido.

Peça: "E Continua... Tudo Bem"
Autor: Bernard Slade
Diretor: Marco Nanini
Quando: Qui a sáb, 21h; dom, 19h
Onde: Teatro Maria Della Costa (rua Paim, 72, Bela Vista, tel. 256-9115)
Quanto: R$ 25 (qui e dom) e R$ 30 (sex e sáb)

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