São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Oposição escolhe Dole sem esperar surpresa

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Começa amanhã em San Diego, Califórnia, Costa Oeste dos EUA, uma das convenções nacionais com menos drama antecipado da história dos dois grandes partidos norte-americanos.
Os candidatos republicanos a presidente e vice já estão escolhidos, nenhum desafiante quixotesco vai tentar roubar a cena, os pontos mais litigiosos da plataforma foram acertados.
Ninguém espera, como em 1992, que Pat Buchanan consiga vitórias dramáticas de última hora na redação do programa partidário. Bob Dole, o candidato à Presidência em 1996, foi muito mais hábil que seu antecessor, George Bush.
Dole colocou Buchanan em seu devido lugar de detentor de menos de 20% dos votos do partido e não cedeu às suas propaladas ameaças de que poderia deixar o partido e concorrer como independente.
Em 1992, Bush teve medo da chantagem de Buchanan e concedeu a ele importantes pontos na plataforma, que podem até lhe ter custado a eleição.
O exemplo que Dole seguiu foi o de Bill Clinton, em 1992, que ignorou Jesse Jackson, o líder mais à esquerda do seu partido. Clinton sabia que o único lugar possível para Jackson é entre os democratas, e Dole sabe que Buchanan só sobreviverá como republicano.
Assim, o programa do Partido Republicano em 1996 será bem menos extremado do que o de 1992. Vai reconhecer a possibilidade de um republicano apoiar o direito de aborto, por exemplo.
Apesar de sua vitória interna absoluta, Bob Dole está muito longe de estar confortável. A mais recente pesquisa de intenção de voto, feita pelo "The Wall Street Journal", mostra que ele está 20 pontos percentuais abaixo de Clinton (55% a 35%) nas preferências.
As possibilidades de vitória em novembro parecem mínimas, e as chances de os republicanos perderem até a maioria que têm no Congresso são enormes. Claro que tudo pode mudar em três meses. Em teoria, a campanha só começa em setembro, quando os partidos tiverem formalizado suas escolhas.
Dole, no entanto, joga tudo para revitalizar sua combalida maratona. Ao confirmar apenas ontem a escolha de Jack Kemp como vice, ele fez o máximo que poderia com a arma da Vice-Presidência, desde que o general Colin Powell recusou-a.
Kemp, 61, foi, até 25 anos atrás, um dos mais populares jogadores de futebol americano de todos os tempos e mantém forte apelo.
Embora seja um dos conservadores mais extremados do país, Kemp consegue (como Buchanan) atrair setores de sindicalistas e pobres das grandes cidades, tradicionais eleitores democratas.
Como secretário da Habitação do governo George Bush, Kemp fez um trabalho impressionante para melhorar as condições de moradia de milhões de pessoas. Ele é contra o direito de aborto, a favor de cortes no imposto de renda, bom orador e debatedor.
Mas ninguém vota para vice-presidente, e sim para presidente. Além disso, Dole corre o risco de parecer ao eleitor muito menos energético e vigoroso que seu vice. O fã de Kemp pode achar melhor esperar quatro anos e votar no ídolo para presidente. Mas, para Dole, é este o risco ou nada.

LEIA MAIS sobre a convenção republicana à pág.18

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