São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Nasa vai tentar achar ser vivo em Marte

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de anunciar para o mundo a descoberta de supostos seres vivos no passado marciano, o próximo passo da Nasa, a agência espacial americana, é tentar descobrir se ainda hoje existe vida em Marte. E há boas indicações de que isso seria teoricamente possível.
O anúncio de que fósseis de micróbios marcianos estavam escondidos em um meteorito coletado na Antártida deu novo alento a um grupo de pesquisadores por enquanto sem objeto de estudo real -os "exobiólogos", cientistas especializados em vida fora da Terra. Além da exobiologia, existe outra nova disciplina associada: a "exopaleontologia" -a busca de fósseis em outros planetas.
Estudos recentes que mostram como era a vida no passado terrestre -como fósseis de microrganismos de mais de 3 bilhões de anos- e a constatação de que moléculas orgânicas (típicas de organismos vivos) são comuns no Universo deixam os cientistas na expectativa de encontrar algum dia um "ET" microscópico.
O que seria essa "vida existente" para a Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço)? Os exobiólogos respondem: trata-se daquela "biomassa que está agora seja em crescimento, seja em algum estado dormente".
O pressuposto dos pesquisadores é que, se houve um dia vida em Marte quando havia água corrente pelo planeta, é possível que ainda existam não só fósseis como os do meteorito Allan Hills 84001, mas alguns sobreviventes.
Três tipos de provas poderiam indicar a "vida existente".
Ela poderia ser reconhecida diretamente, pela detecção de vestígios de seu metabolismo. Nesse caso, seria preciso haver mesmo água corrente. A superfície marciana seria um lugar ruim para essa pesquisa; o mais provável seria achar água debaixo do solo, aquecida por vulcanismo ou pelo calor interno do planeta.
Já a vida "dormente" pode estar em um local inóspito, mas sendo ainda capaz de ser "ressuscitada", como uma semente ou um esporo.
E a terceira evidência seriam indicadores indiretos, como gases ou minerais formados pelo metabolismo do ser vivo, ou mesmo moléculas orgânicas complexas.
Essas observações constam de um relatório recentes da Nasa sobre a busca de vida em Marte, preparado por uma grande equipe multidisciplinar.
Uma das conclusões básicas é a importância do local a pesquisar.
"Claramente, portanto, um item de grande importância na busca de vida existente é a localização dos sítios que são os mais prováveis de favorecer o achado de vida ou de um indicador dela. Esses sítios incluirão tanto ambientes protegidos ou nichos favoráveis à vida, ou aqueles lugares onde evidência de vida escondida pode ser encontrada perto da superfície do planeta", diz o relatório.
A Nasa tentou 20 anos atrás achar vida em Marte. As duas sondas Viking pousaram na superfície do planeta em 76. Foram feitos testes com amostras do solo marciano. Houve, por exemplo, produção de gases como o oxigênio, atribuída a alguma reação não-orgânica de compostos no solo.
O principal problema, porém, foi a escolha de um local inóspito. Se pudessem refazer os testes, os pesquisadores hoje optariam por sítios melhores, seja para achar fósseis como os do meteorito antártico, seja parra achar sinais de "vida existente".
"Há evidências convincentes de que o clima antigo de Marte era parecido com o da Terra, com uma atmosfera mais densa e quente, e água líquida abundante", dizem dois especialistas da Nasa, Jack D. Farmer e David J. Des Marais, cujo grupo de pesquisa ajudou na seleção do local de pouso da próxima sonda a tentar o pouso em Marte, a Mars Pathfinder.
"Com dados coletados pelas Viking, estamos selecionando locais-chave para exobiologia em Marte para serem filmados em alta resolução em missões orbitais futuras", dizem os pesquisadores.
Na ausência de um geólogo no local, o minijipe da Pathfinder é a melhor opção, pois pode se locomover em busca de diferentes tipos de rochas.

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