São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Caipirinha de vodca

ELEONORA DE LUCENA

São Paulo - Inflação baixa, desemprego alto, crescimento contido. Assim vivem, com suas diferenças, Brasil e Argentina. Aqui, a maioria dos candidatos ligados ao governo e ao Plano Real enfrenta dificuldades com o eleitorado. Lá, o candidato da oposição ganhou em Buenos Aires, e as lideranças sindicais fizeram a maior greve geral do país em sete anos.
Os dois países passaram por períodos de euforia: afastaram o fantasma da hiperinflação, criaram uma moeda forte e registraram boas taxas de crescimento. A privatização entrou na ordem do dia: foi radical na Argentina e mais suave no Brasil.
Veio o desastre do México, e os dois países frearam a economia. Os juros subiram. O desemprego estourou. É de 17,1% na Argentina. Na Grande São Paulo, está em 16,2%. O governo argentino alega ter feito sua lição de casa: segurou o déficit. O brasileiro não pode mostrar o mesmo argumento: o déficit público subiu com FHC.
Lá, como aqui, o fantasma cambial assombra. Os resultados positivos estão no passado, e os planos de estabilização, numa encruzilhada. Precisam de ajustes econômicos que entram em choque com as necessidades políticas dos governantes. Menem e FHC querem reeleição. Temem que desaquecimento e oposição em alta tornem mais difícil atingir a meta.
Na Argentina, Menem tenta reverter sua queda de popularidade mudando de ministro e fazendo ataques retóricos ao Fundo Monetário Internacional. No Brasil, FHC anuncia uma terceira onda de desenvolvimentismo.
Muito já se falou do "efeito orloff", alusão à propaganda da vodca. Inversamente, foi criado, na Argentina, o "efeito caipirinha", relacionando também as duas economias.
Hoje, as trajetórias dos países estão mais próximas do que nunca. Cada um depende muito do sucesso ou do fracasso do outro. Estão ligadas as decisões econômicas envolvidas nos dois projetos de reeleição. Numa perigosa mistura.

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