São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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O Leopoldo 2

ALESSANDRA BLANCO
FOTO ROCHELLE COSTI

O arquiteto, o engenheiro, o administrador e o cozinheiro. Juntos, há pouco mais de quatro anos, eles acreditavam estar abrindo a mais luxuosa casa de São Paulo.
Fernando Dhelomme Filho, o administrador, tinha o ponto. Jorge Elias, o arquiteto, as idéias. Giancarlo Bolla, o dom para a cozinha. E Chico Lima, o engenheiro, a capacidade de colocar tudo em prática.
Eles só não contavam com a avenida Faria Lima, que, três anos depois, deveria ser estendida pela prefeitura e iria passar pelo O Leopolldo.
Foi um ano de saia justa: reservas desmarcadas e festas realizadas em salões alheios. Tudo para não perder o cliente -e a fama. Afinal, eles prometiam que, em um ano, um novo Leopolldo, igual ao da rua Leopoldo Couto de Magalhães Jr., seria aberto.
Eles erraram. Um novo Leopolldo vai abrir suas portas na próxima quarta-feira, mas ele não é nada igual ao antigo.
A casa -um restaurante-boate-bar-bufê-adega-salão privê- reabre no Morumbi, com sete ambientes, visão panorâmica da cidade e já é a mais luxuosa entre outros 11 novos restaurantes, bares e boates sofisticados que estão inaugurando em São Paulo.
"É uma casa tradicional", diz o arquiteto Jorge Elias. É toda feita em tons amarelo e verde pastel, os pés-direitos chegam a seis metros de altura e a decoração foi inspirada no Brasil Império, cheia de retratos de famílias imperiais e bustos de personagens históricos.
Antes de entrar, deve-se passar por um host, que vai encaminhar cada pessoa para o lugar certo da casa, ou barrar aqueles indevidamente trajados, leia-se: tênis e calça jeans.
Não há um valor estipulado para a entrada. "Nosso cliente é aquele que vai ao Leopolldo para jantar ou para ficar no bar e na boate. Não estipulamos um valor, mas sabemos que não vamos receber alguém apenas para beber um refrigerante", diz Jorge Elias.
E quem entrar na casa, calculam os proprietários, não deve gastar menos de US$ 50, entre jantar e bebida.
Os ambientes
O primeiro ambiente do Leopolldo é a biblioteca-bar, um espaço repleto de livros, com tapetes persa e móveis aveludados, que servirá como um local de espera para o restaurante ou o bar.
O restaurante é o local mais tranquilo, com lugar para 60 pessoas, e decoração discreta, com tapeçarias do século 17. A cozinha franco-italiana é comandada por Giancarlo Bolla e o menu é uma produção conjunta de Bolla e Emmanuel Bassoleil, "chef" do Roanne.
"Vamos ter uma comida mais atual com sabores exóticos e especiarias orientais", diz Bolla. O destaque fica com a salada de zucchini e camarões ao tempero de iogurte e o fettucine ao foie gras fresco.
O bar também é quase um salão de entrada para a boate. Tem um balcão voltado para uma sala com mesas e sofás, decorada com quadros sobre o imaginário do Brasil na época de Maurício de Nassau; e outro balcão voltado para a boate. A música? Vai do flashback romântico à macarena.
Nada de globo ou luzes negras. A iluminação e as caixas de som ficam embaixo da pista de dança e a boate é toda cercada de vidros que dão visão para o Bosque do Morumbi e toda a cidade. Quatro bustos de mármore do século 18, que representam os quatro continentes, também enfeitam o local.
Ao lado da boate, mas em espaço reservado, fica o salão de festas com capacidade para 400 pessoas sentadas. A decoração segue o padrão: colunas de mármore verde jaspe com capitéis de estilo coríntio e arandelas imitando folhas de árvores brasileiras.
No teto, há um painel pintado por Jorge Elias, com a ajuda dos garçons do Leopolldo, cheio de índios, negros, cana-de-açúcar, aves em extinção e coqueiros. E, claro, um lustre de cristal.
Esse é o primeiro andar do Leopolldo. No segundo andar, há um segundo salão privê, para poucas pessoas, ao lado da cozinha do gourmet.
"Com essa moda dos homens se ligarem à cozinha, criamos um espaço onde o nosso cliente vai poder cozinhar e servir para seus amigos. Claro, com todo o auxílio do nosso pessoal", diz Bolla.
O último ambiente do Leopolldo fica no subsolo, abaixo da biblioteca. É a adega, onde pode-se organizar degustações de vinho e até pequenos jantares.
Um detalhe: quem andar pela casa não vai dar de cara com garçons circulando com bandejas. Todo o serviço é feito pelo subsolo. "Criamos ligações do subsolo com o piso por meio de pequenas portas, por onde é passada a comida e a bebida", diz Chico Lima.
Uma "montanha de dinheiro"
A capacidade total da casa é para 1.300 pessoas -com garagem para 140 carros. Mas no dia da inauguração, na quarta-feira, deve receber 1.500 pessoas, incluindo o prefeito Paulo Maluf e o presidente Fernando Henrique Cardoso (ainda não confirmado).
Os convites foram vendidos a R$ 200 e a renda será revertida a entidades assistenciais. Os investimentos: "Uma montanha de dinheiro, não podemos nem comentar", diz Jorge Elias.
Mas o Leopolldo não é o único restaurante -ou boate- sofisticado que está abrindo suas portas.
Outros quatro, o Tarsila, Café V, Oscar e o bufê de Cecília Castro Cunha, inauguraram há menos de três meses; o tailandês Lanna Thai e o Sea Port inauguraram na última semana; e mais cinco, o Cantaloup, o Danang, o Alvorada, um francês ainda sem nome e o club B.A.S.E., abrirão nos próximos meses.
Cantaloup
O Cantaloup deve ser inaugurado em duas semanas. É um restaurante com base na cozinha francesa, mas com influência catalã e asiática. O cardápio foi desenvolvido por Laurent Suaudeau, e o "chef" é Deff Haupt, ex-Ciao.
Os destaques são a salada de frutos do mar e o camarão sauté com emulsão de cogumelos e arroz selvagem.
Destaque ainda maior fica com os 1.600 vinhos do Cantaloup selecionados pelo enólogo Jorge Lucki e cuidados de forma que as pessoas possam pedir apenas uma taça do Chateau D'Yquem, por exemplo, sem perder o resto da garrafa.
"Quando pedimos apenas uma taça, devemos nos contentar com um vinho ruim porque ninguém vende uma só taça do bom vinho correndo o risco de perder o resto. Aqui temos um aparelho onde o vinho é tirado pressurizado e a garrafa é fechada novamente", explica o proprietário Daniel Rolim Sagagoff.
O Cantaloup vai ocupar o espaço de uma antiga fábrica na rua Manuel Guedes. "A idéia é criar dois ambientes, um interno com iluminação natural e outro externo com jardim", diz Sagagoff.
A decoração é toda feita em tons amarelo e laranja seguindo as cores do melão.
Club B.A.S.E.
É também "aproveitando" um imóvel dos anos 50 que Angelo Leuzzi (Café Columbia), Roberto Pandiani (Aeroanta e Mr. Fish), Ricardo Roman Junior (Allure), João Paulo Diniz (Grupo Pão de Açúcar) e Julio Pignatari (Projeto SP) vão criar o seu club B.A.S.E.
A casa vai ocupar o espaço do antigo balneário do Hotel Danúbio, na rua Brigadeiro Luís Antônio, ou na Broadway paulistana, como prefere chamar Leuzzi.
A idéia é tentar reaproveitar e restaurar o máximo possível da antiga sauna. As duas piscinas, por exemplo, serão mantidas ao lado da pista de dança. As duas saunas secas serão transformadas em "home theaters". As duas saunas a vapor vão virar salas de snooker.
A decoração vai oscilar entre paredes de pastilhas restauradas e outras de aço inox e colunas revestidas de ferro.
A pista de dança fica no primeiro andar da casa e vai tocar de rock a tecno. O equipamento de som, da Stage Company (estúdios Disney e shows de Prince), permite a distribuição do som por toda a casa, sem distorções. A iluminação virá de Nova York. No segundo piso, ficam os jogos, o bar e uma passarela em cima da pista de dança.
Os tailandeses
Até outubro São Paulo também vai ter três casas de comida tailandesa.
"Não se trata de um modismo. É uma tendência mundial", diz Cecília Castro Cunha, que há três anos faz banquetes com comidas do sudeste asiático e agora decidiu abrir sua cozinha para festas.
"As pessoas viviam me pedindo para vir comer aqui. Reformei a minha cozinha e permiti. Agora, elas ligam, eu monto um cardápio para até 50 pessoas e todos vêm comer", diz Cecília.
Na última segunda-feira, também foi inaugurado o Lanna Thai, tradicional restaurante tailandês. Do cozinheiro às louças e ingredientes, tudo é tailandês. "Só em Amsterdã há hoje 28 casas tailandesas. É um absurdo que no Brasil não tivesse nenhuma", dizem os proprietários Célio Faria e Alex Bos.
A comida será a mais tradicional possível. "A comida tailandesa se baseia sempre na combinação dos cinco sabores -apimentado, salgado, doce, azedo e amargo- no mesmo prato ou em pratos combinados", diz Bos.
Os almoços serão mais simples e baratos (R$ 15 a R$ 22). Os jantares serão mais sofisticados, com peixes em folhas de banana em molhos mais apimentados (R$ 22 a R$ 30). A melhor pedida é a sopa de camarão com raiz de erva-doce.
A decoração também seguirá a tradicional tailandesa, com vimes, sedas de cores fortes, o Buda e a casa dos espíritos, que serve de proteção.
Menos tradicional, o Danang, de Augusto Peres (Panino Giusto), segue a linha vietnamita-tailandesa.
Seu cozinheiro está fazendo um curso no famoso Vong, de Nova York, e deve voltar cheio de idéias para "ocidentalizar" a comida do sudeste asiático e abrir o restaurante em outubro.
"Vamos ter um toque da cozinha francesa para melhorar a apresentação dos pratos e torná-los menos picantes", disse Augusto Peres.
Mais inaugurações
Um restaurante de comida caseira francesa, um outro de comida brasileira dos anos 50 são as próximas inaugurações.
O francês, de Dahoui e Roberta Lowndes, ainda não tem nome, mas já tem o cardápio fechado, com suas berinjelas recheadas e bacalhau com brócolis e amêndoas carameladas.
O lugar será mesmo para se sentir em casa. A decoração é toda rústica. No segundo andar, haverá uma sala de televisão e biblioteca para tomar um café depois do almoço ou só bater papo.
O Alvorada, de Roberto Peres (Rock Dreams), vai ocupar o lugar do antigo Cha Cha Cha. O nome tem a ver com o Palácio da Alvorada.
"Quero montar um restaurante de comida brasileira, mas uma comida que era feita na época do presidente Juscelino Kubistchek e que ele gostava, como a goiabada com queijo", diz Peres.
A decoração também é feita com retratos de JK e Garrincha, entre outros. A música será a bossa nova. Até mesmo os garçons são os mesmos que atuaram nos anos 50. "O barman serviu o JK um dia antes dele morrer", diz Peres.
As previsões de inauguração ficam por volta do final de agosto.
Até lá, os recém-inaugurados Café V, Tarsila e Oscar são boas opções. Além do Bar das Ostras, que mudou o nome para Sea Port e reformulou o cardápio.
O Café V fica dentro da loja Viva Vida, da rua Oscar Freire. Não tem novidades, mas pode ser um bom lugar para uma comida leve, entre as compras.
O Tarsila fica dentro do hotel Intercontinental, mas não tem cara de restaurante de hotel. O "chef" Dominique Gapany faz uma cozinha franco-italiana. A especialidade é o filé de linguado coberto com amêndoas e gergelim ao molho agridoce (R$ 30). A decoração é homenagem a Tarsila do Amaral.
Para dançar, a escolha é o Oscar, com seus bares, pista de dança, jogos e uma boa padaria para quem costuma chegar em casa já trazendo o pão e o leite.

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